"Não pode deixar de ser curioso pensar que o Benfica, nos seus dois mais recentes sucessos no confronto com o FC Porto, impressionou mais a jogar com dez do que a jogar com onze. Tanto mais que em ambos os jogos, um na Luz e outro no Dragão, esteve em cada um deles cerca de uma hora em desvantagem numérica e utilizou sistemas diferentes para encarar e vencer essa enorme contrariedade.
Na Luz, o Benfica precisou de ser uma equipa de ataque para poder marcar os dois golos de que precisava para eliminar o FC Porto na meia final da Taça de Portugal; no Dragão, o Benfica soube ser uma equipa superdefensiva para evitar que o FC Porto marcasse na meia final da Taça da Liga.
Em ambos os casos, o Benfica eliminou o FC Porto. Apesar de ter apenas dez jogadores, marcou os dois golos na Luz de que precisava para se qualificar para a final; e embora tivesse apenas dez jogadores no Dragão controlou toda a segunda parte e impediu que o FC Porto marcasse, levando a decisão para onde queria: os penaltis, que lhe viriam a ser favoráveis.
Os dois diferentes sistemas arquitectados por Jesus foram, de facto, notáveis e a verdade é que se torna difícil escolher qual o que mais devemos elogiar, se a surpreendente dinâmica ofensiva da equipa da Luz, se a excelente qualidade e solidez defensiva, conseguidas à custa de duas linhas muito próximas, que bloquearam o ataque portista no Dragão.
Dito isto, algo de não menos decisivo nos dois jogos: mentalidade, diversidade e rigor na equipa de Jorge Jesus; Desorientação, previsibilidade e desunião na equipa de Luís Castro. E o que ainda impressionará mais nesta evidência é a maneira como, num ano apenas, tudo ficou no avesso."
Vítor Serpa, in A Bola
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