"Tinha tudo para ser um grande arraial, um festival nesta época sem festivais, com direito a fanfarra e desfile em autocarro aberto pelas ruas da cidade até a apoteose no Estádio da Luz e, no entanto, o regresso de Jorge Jesus sabe a quarta-feira de cinzas. Ou, então, sabe apenas a cinzas, a fim de festa, o slow na discoteca às cinco da manhã quando as luzes se acendem. Não devia ser assim.
E o foguetório? O regresso triunfal do homem que, em dezembro do ano passado, era senhor do mundo (pelo menos do mundo de língua portuguesa)? Nada. Hoje há cinzas e resignação, é o que se arranja. Sobras de um banquete antigo com sabor a renúncia. Renúncia de Jesus. O homem que volta ao lugar onde foi feliz e miserável, ídolo carregado em andor e Belzebu de efígie queimada em praça pública (ou, pelo menos, retirada de um grupo de cartazes sorridentes), desistiu de apontar às estrelas. Convenceu-se, finalmente, de que a oportunidade para treinar um dos grandes da Europa, uma daquelas cinco ou seis equipas que lutam, mas lutam a sério, pela Liga dos Campeões, nunca chegará. E assim volta ao Benfica, com o prestígio técnico reforçado e a firme impressão de que o fim da linha está próximo.
Se Luís Filipe Vieira esperava que a contratação de Jesus pusesse o adepto benfiquista a dar pulos de contentamento, a esta hora deve estar a perguntar-se “o que passou-se?” Uns deixam de pagar quotas, outros declaram publicamente que nunca mais vão ver um jogo do clube, outros não sabem se hão de rir ou chorar com as curvas e contracurvas, os mortais à retaguarda e as guinadas imprevistas do “sólido” projecto de Vieira. Jesus não serve para o projecto, Rui Vitória é para muitos anos, vi uma luz, o Vitória já era, o Lage fica porque o Mourinho não quer, Lage forever, Lage na próxima época dê lá por onde der, enter Jesus.
O problema pode ter sido o timing. Anunciar a contratação de Jesus devia servir de antídoto à azia pela perda do campeonato. Essa deve ter sido a intenção do presidente. Mas o tiro saiu-lhe pela culatra.
A malta está cansada e não é a contratação de um treinador, por brilhante que este seja, que apaga o essencial: ninguém sabe para onde vai o Benfica. Ninguém sabe que Benfica é que Luís Filipe Vieira tem na cabeça. Dizia o poeta que o amor é eterno enquanto dura. No Benfica, os projectos também são eternos enquanto duram, como castelos de areia na praia até vir uma onda ou, às vezes, um murmúrio de água.
A hegemonia interna. O Seixal. A Europa. Não há dinheiro, só prata da casa. Vendem-se as pratas da casa para sustentar o vício da vitória. Depois não há vitórias, só o vício a seco. Vão-se os anéis, os dedos, a mão, primeiro a esquerda, depois a direita. No fim, só resta a lábia. Afinal, já há dinheiro. Volta, Jesus. Cem milhões para reforçar o plantel. Gastar à tripa-forra. Vamos lá que ninguém nos pára. A não ser que o Porto desencante um vítor-pereira da vida para ajoelhar o catedrático. A não ser que o Porto, cujo projecto se chama, há quase quarenta anos, Pinto da Costa, consiga ganhar dois campeonatos em três, mesmo sem dinheiro para mandar cantar um cego, mesmo com jogadores a que ninguém chama coxos só por consideração aos coxos.
Os benfiquistas perderam a esperança. Não a esperança de ganhar – essa está sempre lá e, com a chegada de Jesus, pode até sair reforçada – mas a esperança de que dentro do clube alguém saiba o que anda a fazer. Quando nem um treinador como Jesus devolve a esperança aos adeptos é porque a desilusão vai muito para além do que acontece nas quatro linhas.
Quando Vieira decidiu manter Jesus após o ano do quase, teve o seu momento de génio. Quando Bruno de Carvalho foi buscar Jesus quando ninguém o esperava, teve o seu momento de génio. Ir buscar Jesus agora, ao contrário do que Vieira possa pensar, não é de génio. É uma confissão milionária de impotência."
O sr. bruno amaral que ponha vaselina que talvez passe.
ResponderEliminarConcordo.
Eliminar"ninguém sabe para onde vai o Benfica. Ninguém sabe que Benfica é que Luís Filipe Vieira tem na cabeça."
Nem precisam de saber. LFV foi eleito pelos SòCIOS do Benfica com 95% de votos para dirigir o clube o melhor que sabe e não para dar satisfações ou conhecimento do que vai na sua cabeça. Isso poderá ser feito nas AG ou lendo os R&C.
Do mesmo modo que as minhas acções da Apple não me dão algum direito de saber o que vai na cabeça de Tim Cook o CEO da Apple, nem para onde vai a Apple.
Desde que continue a gerir bem e a acrescentar valor à empresa, porque é para isso que foi escolhido…
O resto são pinats!
Como anda oleada e saltitante a cambada assalariada!
ResponderEliminarQual democracia qual caraças!
O homem é que sabe (era bom, era!) e o pessoal tem é que comprar acções (ou cachecóis, red passes, camisolas), mai nada!
O Ricardo Salgado também foi escolhido para gerir bem!
O Vale e Azevedo também!
O Manuel Damásio, igual!
O do Montepio, idem!
O do Milenium, aspas aspas!
O Madox, eishh!
Deixem os homens gerir, pá!
Não bufem!
Que nojo!
Que comparações mais infelizes.
EliminarNão quer comparar também com a Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela ou os 3 pastorinhos?
Pelos vistos as eleições não servem para si. Tem alguma proposta alternativa?
Paga isto e aquilo e eu também, mas não é obrigado a tal. Não é exclusivo da malta das ofensas, das tarjas e dos petardos pagarem tudo isso.
Mania de se julgarem melhores que todos os outros, vá-se lá saber porquê.
Óptimo artigo!
ResponderEliminarCrítico literário não deve chegar para pagar as contas, então vai de baixar as calcinhas no Espesso e rezar para que não lhe doa muito.
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