"Luiz Felipe Scolari, brasileiro, veio treinar a Selecção em 2003 e um ano depois, aquando do Euro que Portugal acolheu, reclamou dos portugueses que estendessem bandeiras, daí resultando uma histórica vaidade. Agora, Jorge Jesus, português, vai chefiar o maior clube do Brasil, o Flamengo. Dir-se-á que uma coisa é conduzir a grande equipa nacional e outra uma grande equipa nacional, mas lembrando que há 10 milhões de portugueses e 40 milhões de adeptos do Flamengo a perspectiva muda.
Comparando a experiência de Scolari por cá com a que se aguarda de Jesus por lá parece-me que as estratégias dos treinadores irão revelar-se distintas. Scolari quis lembrar aos portugueses que eram portugueses e ganhou com isso, mas Jesus não pode recordar aos brasileiros que são brasileiros porque dessa forma se submeterá a que eles, inteirados da historia de futebol com que encantaram o mundo, desatem a pergunta o que raio anda afinal um português a fazer à frente do Flamengo. O caminho de Jesus, então, terá de ser eminentemente técnico, o que para o caso o favorece, pois é nisso que ele se evidencia.
Scolari em 2003 beneficiou de uma acostagem notadamente cultural ao novo cargo, pois em Portugal não encontrou nem orgulho nem tampouco preconceito para com a chegada de treinadores forasteiros. Assim, nem precisou de ser perito, vertente na qual, reconheçamos, nunca surpreendeu por cá (ou em qualquer lado). Já Jesus preferirá sê-lo, sim, técnico, especialista, porque no Brasil enfrentará tanto de orgulho como de preconceito para com estrangeiros no futebol. Não precisará de ser cultural ou pretensamente ideólogo, óptica na qual também dificilmente poderá impressionar por lá (ou em qualquer lado)."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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