"Vai chegar o dia em que os jogadores da equipa principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica vão ser obrigados a não chutar com força. Só para não magoar os adversários nem os sentimentos dos especialistas da modalidade. Depois de mais uma vitória no estádio do SCP, choveram críticas: o SL Benfica jogou muito atrás. Focou-se em defender bem e em atacar melhor, foi eficaz, superiorizou-se à equipa da casa e ganhou o jogo, mas isso não chega. Parece que, dizem os tais entendidos, um clube como o Glorioso não pode mudar de estratégia em determinados jogos. Tem de ser sempre ao ataque em jeito de rolo compressor, com pelo menos três avançados e sem ser resultadista. Porque é isso que é esperado do maior clube de Portugal. Já passaram alguns dias, mas ainda não consegui parar de rir.
Fico lisonjeado com as críticas que têm surgido. Só a nós a excelência é constantemente exigida e anda serve de atenuante. As sucessivas roubalheiras nos nossos jogos da Liga Portugal? Adiante. As expulsões e grande penalidades que favorecem inexplicavelmente os nossos rivais? Siga. Os castigos a jogadores e treinadores adversários que se perdem na burocracia? Assobia para o lado. As violações de fair play financeiro e as dividas perdoadas que permitem a clubes falidos continuar de portas abertas? Má vontade nossa.
Têm razão. E parece-me que até deveríamos ir mais longe nas restrições à prática desportiva dos atletas do SL Benfica e escolhas tácticas dos treinadores. No basquetebol só podemos ter jogadores lançadores de triplos, no andebol e no futsal, só se joga com guarda-redes avançado, no voleibol, a equipa tem de estar apenas na zona de rede, no atletismo, só será permitido corridas ao pé-coxinho, no hóquei em patins, passa a estar proibida a utilização de sticks. Tudo isto porque, historicamente, o SLB tem de dar lições de nobreza, equilibrar as contendas e competir sempre para ganhar. Ah, é verdade... goleadas também nos estão proibidas. A menos que o clube adversário se apresente sem os habituais titulares ou seja nosso parceiro em negociações obscuras."
Ricardo Santos, in O Benfica
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