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terça-feira, 13 de março de 2018

O futebol e os atrasados mentais: culpa do wrestling

"Faz-me confusão como é que se perde tempo a olhar para o futebol quando se acredita que está tudo comprado e combinado.

Luís Castro não o disse mas deixou-o implícito e eu posso escrevê-lo: o futebol em Portugal está cheio de atrasados mentais. Somos campeões da Europa e estamos a deitar ao lixo uma janela de oportunidade única de rentabilizar uma actividade de sucesso, porque somos cada vez mais incapazes de ver a fotografia completa. A culpa é dos posts de Facebook, das contas de Twitter, da doutrina envenenada passada pelos canais dos clubes... De gente que sacrificaria a própria mãe se isso lhes garantisse uma vitória e, melhor ainda, uma derrota do rival – porque para muita gente o que importa não é ganhar, é sim que os outros percam. Depois, a culpa também é vossa, leitores, porque a maioria de vós só quer lixo. E é nossa, jornalistas, que para sobreviver tantas vezes vos damos lixo para subirmos um pouco os nossos números e adiar o encerramento das publicações.
Concordo com Luís Castro na questão dos emprestados e, sobretudo, com essa declaração que vai ao âmago da questão do futebol em Portugal, onde o que mais manda “é a desconfiança”. “Chegamos ao ponto em que se perdemos por três, quatro ou cinco, estamos vendidos não sei a quem. Se ganhamos, estamos comprados não sei por quem”, disse o treinador do GD Chaves. E isto, Luís Castro, aplica-se aos jogadores e aos treinadores, mas também aos jornalistas, que se elogiam a prestação de um jogador ou de uma equipa grande é porque são avençados e se criticam também são avençados, mas vão receber ao outro lado. E aplica-se aos árbitros, mas aqui há já muitos anos – se bem que este ano há a inovação do VAR, que para o comum dos portugueses também está à venda.
Em relação aos emprestados, já várias vezes o disse e mantenho. Num futebol onde haja um pingo de sanidade mental aconteceriam duas coisas: esses jogadores poderiam jogar contra o clube detentor dos seus passes e nenhum clube poderia emprestar mais de, imagine-se, três jogadores aos 17 rivais do mesmo campeonato. Não é três a cada um dos 17. É três aos 17, para evitar que se desvirtue a competição e que se criem condições de desigualdade. Porque é que isto não é assim? Porque, no senso comum, da mesma forma que um pequeno nunca ganha a um grande se não estiver pago por outro e nunca é goleado se não estiver corrompido pelo adversário daquele dia, também aqui só se olha para os interesses dos grandes. Os grandes mandam e os seus interesses jogam-se aí há muito mais tempo do que na comunicação que manda espalhar a doutrina dos facilitadores e que, ela sim, é uma inovação recente. Disto, Luís Castro sabe, porque também já esteve num grande.
Da mesma forma que descobriram agora que podem envenenar o panorama mediático aproveitando a abertura – mais que a abertura, o benefício dado – das redes sociais à toxicidade da comunicação, os grandes já aprenderam há muito tempo que podem envenenar a seriedade de uma competição espalhando dezenas de jogadores pelos outros clubes, enfraquecendo-os quando são eles a estar do lado de cá e fortalecendo-os quando é preciso defrontar um rival directo. Esta é a questão concreta. Mas se queremos ter um mínimo de hipótese de a atacar é preciso ir ao fundo da questão e perceber por que razão o regulador sente a necessidade de se defender através de regras como a proibição de os emprestados defrontarem o seu clube – e que não é exclusivo de Portugal, é bom que se diga.
E o fundo da questão é a tal desconfiança de que fala – e bem – Luís Castro. No fundo, aquilo que a mim me faz confusão é perceber como é que as pessoas ainda vão ao futebol, como é que perdem tempo a olhar para um jogo, se no fundo acham que está tudo comprado. Já tinha idade para ter juízo – felizmente – quando surgiu por cá a febre do wrestling, dos combates encenados para o espectáculo, que a dada altura contaminaram a sociedade adolescente em Portugal. “Toda a gente via aquilo”, explicou-me há dias um companheiro de redacção, que tem metade da minha idade. A mim, ver homens adultos de maiô ou calças de licra a simular que davam tareias noutros homens adultos de maiô ou calças de licra parece-me tão desinteressante como ver homens adultos de calções a simular que jogam futebol contra outros homens adultos de calções.
Afinal, vai-se a ver, a culpa é do wrestling. Do Undertaker e do Holk Hogan. Agora é só perceber qual dos grandes os comprou..."

4 comentários:

  1. A culpa também é de alguns COBARDES ( que escrevem com a camisola do clube do qual são adeptos , num total desprezo para com a palavra IMPARCIALIDADE...), que se auto-intitulam "jornalistas". Alguns , quem diria(?), até se refugiam no mexeriqueiro "record". Citar Luis Castro ( que eu considero um "gentleman", note-se...) , para demonstrar o quê ? No Estrangeiro, a imprensa, de um modo geral, constitui um "supletivo" da Polícia porque se dá ao trabalho de INVESTIGAR factos menos "ortodoxos" que surgem de vez em quando, no Civil ou no Desporto...contando com seus próprios meios: o que define a qualidade de qualquer jornal. Presentemente, em Portugal, atingiu-se o grau zero do jornalismo ; julgam que os jornalistas e os jornais sentar-se-ão á mesa para discutir sobre a questão ? Nada disso . Preferem escrever para os "fãns" ( em número cada vez mais reduzido...),explorando sempre a notícia que fez manchete, como um cão que rói um osso até não haver mais para roer, ainda por cima, atacando quem os contesta...até á completa falência da imprensa...???

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  2. Dizia um dia um porta amigo é melhor dizer do outro que dizer de ti,está tudo dito desta corja de junta letras

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  3. Que nenhum benfiquista compre nenhum jornal desportivo...que nao acedam aos seus sites.
    Que nao comprem revistas como a saba.. e a vi...
    e principalmente o c.manha e a tv manha..eles que sobrevivam sem nos????

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  4. É o Tóino Tadeia a meter a Comunicação dos clubes toda no mesmo saquito!

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