Justa causa para suspeitar

"Bruno de Carvalho conseguiu virar o tabuleiro da Liga, mas, se acha que a jogada só custou dinheiro, está enganado.

A escolha de Rui Vitória, ama-seca do Vitória de Guimarães, corrobora os planos de Luís Filipe Vieira, que quer pôr a formação a render na primeira equipa. E a escolha do 'baby-killer' Jesus também corrobora os planos de Bruno de Carvalho, apesar de este, supostamente, querer a mesma coisa que Vieira. Generalizaram-se duas imagens que são um nadinha precipitadas: a de que o ex-treinador do Benfica abomina os jogadores da formação e a de que o presidente do Sporting os idolatra. Quem reparou nas contratações do último defeso há de ter notado a quantidade de reforços estrangeiros, vários deles jogando em posições para as quais havia promessas interessantes. Tobias Figueiredo é um exemplo. Bruno de Carvalho não venera a formação, nem deixa de venerar: navega à vista e usa o discurso que melhor cumprir os objetivos. Foi assim com os fundos financeiros (que eram o remédio santo quando ele se candidatou a primeira vez e propôs 50 milhões de euros vindos da Rússia) e foi assim com a Liga. O presidente do Sporting encontra sempre uma justa causa quando é necessário, quer seja para agradar aos adeptos, quer seja para despejar o treinador quando aparece a oportunidade única de um golpe de teatro como este de Jesus. Foi uma boa jogada, por alterar completamente os equilíbrios dos candidatos ao título, no mínimo, pela instabilidade e insegurança que o Benfica volta a ter, seis anos depois. Mas teve custos, até para além da quantidade insana de dinheiro. Depois do tratamento dado a Marco Silva, muita gente pensará duas vezes antes de confiar no Sporting. Se calhar, até Jorge Jesus, um dia destes."

José Manuel Ribeiro, in O Jogo