A "causa" contra Marco Silva

"Entre os detalhes que levaram à 'saída' de Marco Silva e à entrada de Jorge Jesus no Sporting, muito Direito há para discutir e decidir. Como sempre, aliás. Desde a conduta de um treinador-trabalhador subordinado com contrato de trabalho em vigor até à 'eliminação' da 'imagem' (protegida legalmente) desse treinador de uma fotografia alusiva à comemoração de um título do clube-patrão. Desde a intervenção de um 'empresário'-agente na política desportiva e na contratação de jogadores dos clubes até à determinação de 'justa causa' para efeitos de despedimento de um (outro) treinador-trabalhador. Este último caso - o de Marco Silva - será mesmo - se vier a chegar a decisão final fora de entendimento do clube e treinador - uma oportunidade para fazer jurisprudência e acabar com algumas dúvidas sobre os 'deveres' dos treinadores. Para além da hipótese - aparentemente legítima - de Marco Silva avançar unilateralmente com a rescisão por 'justa causa' e confundir um pouco o baralho 'político' de Bruno de Carvalho (com o 'jurídico' a ser instrumental).

Para o que se vai sabendo, Marco Silva levou para casa uma 'nota de culpa' com 400 páginas (uma época inteira a coligir dados...) em que a Sporting SAD o acusa, entre outros comportamentos, de (i) não ter assumido a agressão de Rojo ao presidente, (ii) ter sido desleal com o 'patrão' quando, no processo disciplinar a Slimani, abonou a favor do jogador, (iii) ter 'desconfiado' da contratação de Ewerton, (iv) ter preterido jogadores nos jogos em nome de interesses diversos dos do Sporting, (v) não ter usado o fato oficial do Sporting e (vi) não ter cumprido a reunião com BdC. Será tudo isto (ou algo disto) 'justa causa'? Haverá aqui (de acordo com a regulação aplicável) comportamento culposo que comprometa a subsistência do contrato de trabalho, nomeadamente por 'desobediência ilegítima às ordens da entidade patronal', 'inobservância, reiterada das regras de conduta próprias da actividade e das necessárias à disciplina do trabalho', 'provocação repetida de conflitos com elementos da equipa de futebol e membros dos órgãos sociais do clube' ou 'lesão de interesses patrimoniais sérios' da entidade patronal? E, mesmo que houvesse (e sem prejuízo de caducidades do processo do Sporting), não será de julgar que os factos de 'justa causa' (para quase tudo) se 'evaporaram' há muito? De facto, e assim quando a entidade patronal 'houver revelado, por comportamento posterior, não os considerar perturbadores da relação de trabalho'... O verão ainda não chegou mas promete!"

Ricardo Costa, in Record