"Não menosprezo o efeito da chamada 'chicotada psicológica' no desporto. Geralmente, a troca de um treinador provoca o reagrupamento em torno de objectivos da equipa, realinha o foco e fomenta a necessária disponibilidade física e mental dos jogadores, além de gerar benefícios decorrentes de novas dinâmicas, em particular as tácticas, surpreendendo adversários. Porém, o seu efeito tende a ser de curto prazo, logo emergindo eventuais defeitos antigos e revelando-se susceptível a resultados aquém das expectativas.
Mas o que temos constado na nossa equipa de futebol extravasa o domínio da psique ou da mera novidade. Bruno Lage conseguiu, em pouco tempo, redefinir a identidade da equipa, impor uma mentalidade consentânea com os pergaminhos do clube e, sobretudo, introduzir variações tácticas que permitem à equipa superiorizar-se globalmente aos seus adversários no decorrer das partidas. Outros bons sinais derivam da quase ausência de oscilações exibicionais significativas independentemente do nível dos adversários, do local do jogo ou das alterações no onze. Para utilizar um jargão da moda: há processo (e é bom).
Ninguém sabe o que o Benfica poderá fazer nesta temporada, assim como ninguém ousará alvitrar limites à ambição benfiquista. No entanto, parece-me evidente que, independentemente dos resultados no final da temporada (e esta é uma condição difícil de aceitar num clube como o Benfica), os benfiquistas elogiarão o trabalho desenvolvido por Bruno Lage. No presente, todos já o fazemos: os benfiquistas, a atravessarem um raro período de unanimismo em torno de um dos seus protagonistas; e os adversários, como habitual, variando entre o desdém, a relativização ou a difamação."
João Tomaz, in O Benfica
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