"É sinal de um realismo absolutamente excepcional quando um treinador, no fim de uma flash-interview, deixa os jornalistas com pouco (ou nenhum) trabalho para fazerem. E, em relação ao Benfica, essa é, também, uma evolução pela qual os adeptos – habituados a um constante atirar de areia para os olhos – esperavam há já algum tempo. Na realidade, Bruno Lage está para os adeptos do Benfica como um conto-de-fadas, como o tal, como o amor perfeito e tudo aquilo que eles sonhavam quando se depararam com a inevitável derrocada do Projecto V. Por alturas do Natal, no sapatinho, sempre quiseram alguém mais evoluído tacticamente (check!), alguém que, realmente, explorasse a qualidade que existe em vários sectores do plantel (check!), em suma alguém que os aproximasse da realidade de que o Benfica não anda, por exemplo, na Europa para se deixar perder com os Galatasarays desta vida (Check!). Isso tudo e o realismo com que controla uma onda de histeria em relação às possibilidades da equipa fazem do curto período em que se encontra ao comando da equipa, um verdadeiro case-study.
Defender à Milan, atacar à Barcelona. Todos nos lembramos de quem o disse, e todos nos lembramos o que a realidade fez a estas duas ideias, digamos, antagónicas. Isto porque o número de jogadores que são precisos para atacar à Barcelona, assim como os espaços que eles têm de ocupar para o fazer (já para não falar em variadíssimas outras coisas necessárias a esse desígnio), não se coaduna com o número de jogadores necessários para defender à Milan, nem tão pouco com os espaços que eles têm de ocupar. Contudo, adaptando a ideia a Bruno Lage – e por isso mesmo a uma realidade, digamos, bem mais possível e prática, podemos encontrar no Benfica uma espécie de Defender à Milan, atacar à Liverpool. E se por Milan nos referirmos ao míticos tempos de Sacchi, e se por Liverpool nos referirmos ao mais contemporâneo trabalho de Klopp, encontramos algo, esse sim, possível de fazer. Esqueçam as maratonas com bola no meio-campo adversário se depois querem a armada pronta para fechar entre-linhas ocupar a profundidade e bascular para os corredores com o número necessário para tapar possibilidades. Para o Benfica, organizado ofensivamente, todas as bolas podem dar golo. E, contra o Galatasaray a precisar de dois golos para gelar a Luz, não se poderia esperar dos encarnados que povoassem o seu meio-campo ofensivo ficando à mercê das transições do adversário. Pelo contrário, e é assim que Lage parte para construir o seu novo Benfica: é o adversário que faz uso da bola (por corredores exteriores, visto que o espaço central está perfeitamente ocupado) para ficar à mercê da fome de golo encarnada.
Bem… nem todos podemos ver o que J. Félix vê. Pizzi vai aparecer no espaço assinalado com o seu nome e agradecer a João uma excelente oportunidade para abrir o marcador
Assim, se o futebol fosse um puzzle, Bruno Lage, em tão pouco tempo, conseguiu já preencher grande parte do mesmo. Com uma organização defensiva irrepreensível, com uma reacção à perda bem trabalhada e com uma transição ofensiva temível, Bruno Lage junta às bolas paradas defensivas (extraordinária a zona mista que o SLB ostenta à frente de Odisseas, empurrando com homem-a-homem os adversários para fora dela), e às bolas paradas ofensivas, peças fundamentais que catapultam este Benfica para um nível muito próximo daquele a que, por exemplo (e sem mais exemplo no passado recente), Jorge Jesus deixou no Seixal. E com semelhante ideia, é sem surpresa, que uma 1.ª mão na Turquia possa ser ganha com alguns jogadores que não faziam sequer parte das contas, assim como uma 2.ª mão possa ser absolutamente controlada, criando várias oportunidades e fechando espaços que outra equipa, e outra ideia, dificilmente fechariam. E quanto aos erros, e à evolução, nem nos precisamos de debruçar sobre eles, porque é o próprio técnico que impede que nos apelidem de Velhos do Restelo se tocarmos neles outra vez. Até nisso, Bruno Lage, tem sido excelente!
A juntar ao erro referido por Bruno Lage, também o minuto 85 será alvo de revisão por parte do técnico. Indefinição para cobrir a bola, e, com ela descoberta, mau controle da profundidade.
“A estratégia que definimos foi bem conseguida. Ofensivamente podíamos ter tido mais bola mas o Galatasaray tem uma forma de jogar muito parecida ao típico jogo turco, as equipas vão ficando partidas e nós também temos de ter qualidade na posse para termos transição defensiva. Nós tivemos essa consciência. É verdade que podíamos ter tido mais bola. O mais importante foram as oportunidades criadas, que foram imensas, quer em transição, quer em ataque organizado, bola parada. Estamos satisfeitos com isso. É um jogo que são dois jogos e estamos satisfeitos porque passámos”
“Aquilo que nós queremos é encontrarmo-nos a nós. E isso é um longo caminho para fazer. Veja-se o golo deles que foi anulado: é um lance em que o Gedson comete um erro e perde a bola. Mas não havendo muito tempo para treinar tem que se treinar em cima do erro e não desistir. Estamos plenamente satisfeitos com o que estamos a construir e é continuar. Não quero falar do árbitro, o que quero é identificar o erro ali. Está de costas, tem jogadores pela frente, tocar de primeira, seguro. É um momento em que não se pode dominar a bola, temos gente de frente, é tocar e depois já estamos a jogar com os dois médios para a frente. Mas isso é muito trabalho, muito treino”
Bruno Lage (no final da partida que deixou o Benfica à espera de adversário para os oitavos-de-final da Liga Europa)
Benfica-Galatasaray, 0-0"
Benfica-Galatasaray, 0-0"
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