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sábado, 9 de maio de 2020

Espaço para o futuro

"Reconheço que o texto distribuído à imprensa passada segunda-feira pelo Presidente da Federação Portuguesa de Futebol me surpreendeu positivamente. Pareceu-me que, num momento tão dedicado das nossas vidas, antes de decidir publicá-lo, Fernando Gomes se terá mesmo empenhado em desenvolver uma reflexão muito ponderada, na qual ousa avançar ideias que não se esgotam no exame circunstancial das incidências decorrentes da terrível conjuntura. Se assim não tivesse sido, certamente que teria mantido a sua habitual reserva comunicacional e deixado à mercê do 'rei do mundo' que as coisas, se fossem resolvendo por si, com o correr dos dias ou dos meses, em vez de se chegar à frente para partilhar connosco - comuns mortais - as suas preocupações acerca do futuro do Futebol.
Por mim, acho que fez bem. O Presidente do organismo que tutela o desporto-rei em Portugal, quem diria, desta vez não veio com meias-palavras, nem com paninhos quentes: depois de se referir à oportuna missão de ajuda empreendida pela instituição que dirige, logo reconheceu a necessidade e a oportunidade das mudanças estruturais que doravante todos teremos de operar nos cenários societais do 'curto prazo', mediante a escolha de novos trilhos que nos levem a pensar 'mais além da paixão'. Sugeriu a introdução de 'critérios mais exigentes na construção dos nossos projectos desportivos' e propôs, sem subterfúgios, a convocação de novos suplementos de persistência de resiliência e de trabalho colectivo aos actores do teatro do Futebol.
Gostei de ler o que li, da parte de Fernando Gomes. Isto dito e confessada a minha surpresa, também não deixarei de sinalizar que a razão do meu conforto no seu texto talvez resida ao reencontrar nele o mesmíssimo padrão de raciocínio que, de há uns dezassete ou vinte anos para cá, veio ser determinadamente aplicado e cumprido, por sistema, no Benfica.
Aqui, nessa altura do princípio do século, parecia que nem havia espaço para o futuro. A 'paixão' e a pressão do 'curto prazo' era o que, afinal, mais nos dava cabo desse nosso triste presente, tão doente (e agora, felizmente, tão longínquo!); ainda para mais, inquinado pelas manigâncias de uma justiça malbaratada e pela batota imposta em campo por gente corrupta... Seja como for, acredito que as justas reflexões do actual Presidente da Federação Portuguesa de Futebol possam os players e seus sucedâneos da comunicação, estes 'novos' comportamentos que o Benfica entendeu adoptar com 'persistência, resiliência e trabalho colectivo' há quase duas décadas. Mas, a ver vamos, se ainda lhes chegarão a tempo..."

José Nuno Martins, in O Benfica

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