"A época de Andebol terminou e é altura de fazer uma introspecção à temporada que passou.
Esta era a temporada do tudo ou nada para Carlos Resende, que entrou no último ano de contrato e que ainda só tinha conquistado uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Houve várias mudanças no plantel com as saídas de Hugo Figueira (GR), João da Silva (Ce), Ales Silva (P), Stefan Terzic (LE), Arthur Patrianova (LE) e Alexandre Cavalcanti (LE). E as entradas de Gustavo Capdeville (GR), Romé Hebo (Ce), René Toft Hansen (P), Carlos Molina (LE/Defesa) e Petar Djordjic (LE).
A época internamente foi uma desilusão. Para o Campeonato, em 26 jornadas o Benfica acumulou 20 vitórias, 1 empate e 5 derrotas. Vencemos o Sporting apenas uma vez na pré-época e perdemos duas vezes para o Campeonato. Perdemos também duas vezes contra o Porto. Perdemos uma vez contra o ABC (6º) em Braga e ainda empatámos contra o FC Gaia (7º) uma vez na Luz. Ou seja, nunca ganhámos aos nossos adversários e ainda perdemos três pontos contra equipas mais pequenas - a derrota no Andebol vale um ponto e o empate dois. Na Taça de Portugal só jogámos contra o ABC nos 16-avos de final e vencemos. Quando a Federação terminou a temporada estávamos a entrar para a Fase Final com 5 pontos de atraso (eram 10 na Fase Regular) em relação ao primeiro, o FC Porto, e estávamos nos Oitavos-de-final da Taça.
Mas na Europa, foi das nossas melhores temporadas. Passámos as fases de qualificação da EHF Cup com boas vitórias sobre duas equipas croatas. Primeiro o RK Dubrava (63-44, a diferença pontual veio sobretudo da 2º mão) e depois o RK Nexe (54-54, valeram-nos os golos fora). Na Fase de Grupos em quatro jogos tínhamos quatro vitórias. Duas contra o 5º classificado da Liga Polaca, uma contra o 4º classificado da Liga Dinamarquesa na Dinamarca e outra contra o 7º classificado da Liga Alemã na Luz. E nem sequer se pode dizer que tivemos um sorteio favorável, visto que havia equipas mais fáceis noutros grupos. Estávamos a um jogo de um apuramento histórico (para o Benfica) para os quartos-de-final da EHF Cup.
A saída do Alexandre Cavalcanti, o nosso melhor jogador em 2018-19, foi bem tapada pelo Peter Djodjic que foi o nosso melhor marcador na EHF Cup (44 golos, 2º melhor da prova) e no Campeonato (174 golos, 3º melhor do Campeonato). Pedro Seabra e Belone Moreira voltaram a ter boas épocas. Paulo Moreno evoluiu bastante e tornou-se num pivot sólido. René Toft Hansen ajudou mais na defesa do que no ataque (o que é bastante importante também) e se não fossem as lesões teria sido um grande reforço. Gustavo Capdeville evoluiu bastante também.
Um dos problemas do Benfica voltou a ser o jogo pelos pontas. Nenhum ponta conseguiu distinguir-se e tornou o jogo do Benfica limitado e previsível. Borko Ristovski desmotivou-se a meio e acabou por sair do clube. Kevynn Nyokas teve uma época apagada e muito inconsistente. Carlos Molina teve pouco impacto..
O Benfica voltou a ser uma equipa muito dependente da primeira linha e com um plantel com pouca profundidade. Bastava entrar a rotação para descansar os titulares e a equipa ressentia-se imediatamente.
Ao final de três épocas onde apenas podemos contar uma Supertaça e uma Taça de Portugal podemos dizer que o projecto de Carlos Resende falhou redondamente. O projecto acabou por não ser mais do que uma importação do ABC para os Pavilhões da Luz. Só que quando o ABC, com Carlos Resende, foi Campeão em 2015-16, o Campeonato teminava em Playoff. Nessa Fase Regular, o ABC terminou a 12 pontos do FC Porto. Desde então, não há Playoff. Dificilmente o ABC teria sido Campeão em 2015-16 sem o Playoff. Nós na altura eliminámos o Porto porque o Alfredo Quintava estava com problema físicos. Sem o Playoff, as lesões do Porto teriam tido pouco impacto. Logo, uma mera importação do ABC dificilmente teria resultado anos e muito menos agora. Desde desse ano, o Sporting melhorou muito com contratações como o Carlos Ruesga, Matevz Skok, Valentin Ghionea, Luís Frade ou Tiago Rocha. Enquanto o Porto manteve a mesma base, ainda acrescentou outros atletas muito fortes como o André Gomes ou o Diogo Branquinho e a estocada final foi o novo treinador Magnus Andersson.
O grande erro para mim de Carlos Resende foi limitar-se a importar o ABC para o Benfica. Se o objectivo era apostar em atletas portugueses, é inaceitável que o Benfica em três anos de Carlos Resende não tenha conseguido atrair um dos jovens com tremendo potencial de Portugal. André Gomes e Diogo Branquinho foram para o FC Porto. O Sporting ficou com o Luís Frade e com Gonçalo Vieira. Enquanto o Benfica é verdade que lançou o Francisco Pereira e o Alexandre Cavalcanti mas ambos já estavam no clube.
Para o ano, muita coisa vai mudar na equipa. Carlos Resende está de saída. Borko Ristovski já saiu. Do plantel deverá sair também o Carlos Molina, Davide Carvalho, Fábio Vidrago, Nuno Grilo, Romé Hebo e Ricardo Pesqueira. Sendo que podem (e quase de certeza que vão) haver mais saídas. Há rumores de jogadores como Miguel Espinha, Pedro Seabra (com grande pena minha) e Kevynn Nyokas também puderem sair. Os únicos que para já parecem ter um lugar garantido são Gustavo Capdeville, Carlos Martins, João Pais, Francisco Pereira, René Toft Hansen, Belone Moreira e Petar Djordjic. A nível de entradas: (1) Chema Rodriguez, Campeão do Mundo 2005 com Espanha (como jogador) e treinador adjunto da Hungria, deverá ser o próximo treinador; (2) o ponta esquerda francês de 24 anos Mahamadou Keita, o central sérvio de 24 anos Lazar Kukic e o pivot esloveno de 25 anos Matic Suholeznik deverão ser reforços do Benfica. Keita inclusive já confirmou nas redes sociais e o antigo clube de Matic anunciou a saída dele para o Benfica; (3) fala-se ainda da contratação do ponta direito alemão de 30 anos Ole Rahmel e do central/lateral esquerdo croata de 25 anos Lovro Jotic. Se estes cinco nomes se confirmarem ficamos com um plantel muito próximo de estar fechado.
As dúvidas no plantel da próxima época, assumindo que estes cinco nomes se confirmam, são:
1. Guarda-redes. Além de Gustavo Capdeville quem será o outro ou os outros? Há a hipótese de chamar Diogo Valério que esteve esta época emprestado ao Belenenses, manter o Miguel Espinha ou contratar um estrangeiro.
2. Lateral Direito. Quem vai competir com Belone Moreira nesta posição? Será que Kevynn Nyokas continua ou estará de saída? Se Nyokas sair, é certo que teremos que ir buscar alguém.
3. Central. Lazar Kukic é central de raíz. Francisco Pereira também é central, apesar de poder jogar a lateral esquerdo. Bem como o Lovro Jotic, que também é central e pode jogar a lateral esquerdo. Havendo ainda Pedro Seabra, esta posição parece sobrelotada. Ou alguém não vem, ou alguém vai estar a jogar noutra posição ou o Pedro Seabra parece-me de saída.
A estratégia do Benfica parece-me ser a de quem quer ganhar já. Não há nada de errado com isso. Já são 10 anos sem ser Campeão no Andebol. Vamos ter mais estrangeiros do que portugueses, o que vem na sequência de termos estado muitos anos sem uma prospeção no Andebol Nacional. Creio que com todos estes estrangeiros vamos deixar escapar mais um jovem português de grande potencial para um clube rival, o André José do ABC. Esta estratégia de ganhar já só faz sentido se a médio/longo prazo conseguirmos quebrar este problema da contratação de jovens portugueses. Outro caminho que eu gostava de ver o Benfica a seguir era o de ser a porta de entrada na Europa de jovens do Egipto, Irão, Tunísia, Argentina ou Chile, que têm tido grandes performances nos Mundiais de Formação. Particularmente o Egipto."
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