"Com grande tristeza minha, estou longe de ser o protótipo de adepto assíduo na bancada. Neste parâmetro sou até o resultado do acasalamento entre o Hany Muhktar e um General soviético: o reflexo do sol nas medalhas que trago ao peito cega com estrilho quem me olha de frente, mas pouco ou nada fiz para ter direito às condecorações.
Não sendo totalmente desprovido de sentimentos, é óbvio que a culpa me atravessa a garganta muitas vezes, mas a cada achaque respondo que a minha ausência dos estádios se deve a trauma de infância, derivado das minhas duas primeiras experiências de "Glorioso ao Vivo e a Cores". Por mero acaso de residência, ambas tiveram lugar no Reino dos Algarves.
A estreia em estádios com Glorioso Dentro foi em Setembro de 1988, quando um tio albicastrense de férias cá em casa, pegou em mim e no filho e nos levou a um Municipal de Portimão cheio que nem um ovo com gema encarnada, para observarmos de perto a estreia de Vítor Paneira a titular. Vencemos por 1-0, mas não vi o golo decisivo de D. Vata I. De nariz esmagado contra a rede por trás da baliza de Silvino, fiquei sem "sinal" quando um GNR parou na minha frente para ver o remate fatal. Já tentei ver no Youtube, mas no resumo da RTP o tento é relatado com as palavras "do golo de Vata não há imagens", sendo no entanto possível vislumbrar momentos antes, o criminoso guarda ao lado dos postes de Silvino. Atrás estou eu.
Por muito traumático que este jogo possa parecer, nada contudo me preparou para a segunda experiência: Abril de 1995, culminar da primeira temporada do nosso Vietname. A convite do Cravo, acabado de retornar da África do Sul com material escolar forrado a craques do Benfica, Ronny Rozenthal e Doctor Khumalo, fui ao São Luis farense ver o antepenúltimo jogo de Vítor Paneira de águia ao peito.
Na altura não o sabia, mas a forma como Artur Jorge mandou o SLB defrontar os comandados de Paco Fortes, já indiciava que o Benfiquinha tinha nascido: 1 guarda redes (Preud'homme); 2 defesas direitos (Xavier e Veloso); 2 defesas esquerdos (Dimas e Nelo); 3 centrais (William, Mozer e Paulo Pereira); 1 trinco (Paulo Bento); e vá, 2 avançados (Edilson e Caniggia). Após 90 minutos agarrado à rede que dividia a todo o comprimento a central oposta à tribuna, para poder colocar os olhos sobre a tarja dos NN, a desilusão foi arrebatadora... 4-1 para o único Farense europeu da história.
Esta foi a ultima vez que entrei na caixa de fósforos da rua de São Luís para ver o Benfica. Entretanto só voltei a sentir o cheiro daquela relva, para ver a primeira subida dos da casa à II Liga do pós renascimento. Devido a Covid-19, no final da próxima temporada, talvez ainda não tenha lá regressado. Mas havendo contas minhas a ajustar em jogos SC Farense - SL Benfica, resta-me ser mais um a torcer pela manutenção dos Leões de Faro, para nos encontramos novamente no coçado betão do mais mítico recinto desportivo do sul... isto claro, partindo do princípio que não fazem como os vizinhos de Portimão e Olhão, que logo que metem os pés em campeonato cimeiro, vendem a alma ao diabo azul e branco que trata por mouros todos os que habitam abaixo da Serra do Caldeirão. Se for o caso, sinceros desejos rápido regresso à II Distrital."
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