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terça-feira, 12 de maio de 2020

O basquetebol português em versão intermitente

"No último sábado, a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) deu a conhecer o seu plano para de 2020/2021, partindo do ponto em que se procedeu à suspensão da temporada 2019/2020, suscitando, desde logo, comentários nas redes sociais e diálogos entre as pessoas do basquetebol.
O documento referido como comunicado nº 151, infelizmente só no seu último ponto é que aborda a evolução do impacto do COVID-19 e uma possível interrupção da actividade.
Quantos aos factos eles são os seguintes.
1 – É proposto um torneio de apuramento para a subida de divisão, definindo as equipas elegíveis para a sua participação, nos diversos níveis de competição;
2 – Cada torneio será disputado em moldes a divulgar e dependente do número de equipas inscritas;
3 – O tempo de duração da competição, nunca será superior a dez dias;
4 – A inscrição do clube deverá ocorrer até 30 de Junho de 2020;
5 – As inscrições serão válidas para a época de 2020/2021;

A Liga Placard pode ter 15 equipas?
Na época de 2019/2020 a competição foi disputada por 14 equipas. O comunicado nº 143 dá o Terceira Basket como tendo perdido o direito desportivo e o Imortal ganho o mesmo direito, por via dos respectivos desempenhos na Liga Placard e Proliga, respectivamente, à data da suspensão da competição. Portanto mantinham-se as mesmas 14 equipas.
Com a realização de um torneio onde a FPB estabelece 3 equipas (CD Póvoa, Ginásio Olhanense e Académica de Coimbra), elegíveis para ocupar a última vaga, facilmente se chega à conclusão de que ela pode ser disputada por 15 equipas, o que será no mínimo um número estranho.
Vamos então ter um alargamento ou estará a FPB à espera de uma ou de várias desistências? Uma desistência nunca é um bom sinal para a vitalidade da modalidade e dos clubes, apesar dos tempos extraordinários em que vivemos.
A FPB tem investido muito dinheiro nas transmissões dos jogos em diversos canais da televisão, indo ao encontro da ansiedade dos clubes, mas é tempo de percebermos se essa foi uma boa aposta e se teve resultados dessa estratégia foram positivos.
Quantos novos patrocinadores vieram por via desse investimento? Qual o valor desses patrocínios? Quantas equipas beneficiaram disso? No caso da Liga Placard, coloco muitas reticências quanto à natureza, justiça e operacionalidade da decisão agora tomada. No que diz respeito ao número final de participantes na época de 2020/2021, devia-se ter começado por saber quais os clubes que querem, os que podem e os que têm condições para competir na Liga Placard, tal como referi num outro artigo. 
Porque infelizmente querer não é suficiente. É preciso realmente ter condições de puder disputar a competição, e isso exige capacidade organizacional, sustentabilidade financeira e recursos humanos, quer ao nível de jogadores portugueses quer ao nível de jogadores estrangeiros. Neste aspecto, é preciso relembrar que o tempo médio de jogo por equipa dos jogadores Portugueses na primeira volta da época agora terminada foi de 36%, o que torna a nossa competição demasiado dependente da contratação de jogadores estrangeiros.
Desta forma, interrogo-me se será viável e se é possível trazer cinco jogadores estrangeiros por equipa? Como todos sabemos as fronteiras estão encerradas, a EU aconselhou as pessoas a não fazerem voos intercontinentais, pelo que a eventual necessidade de os jogadores que chegam terem de fazer o período de quarentena pode ser uma realidade, levantando outro tipo de problemas para os quais os clubes e a FPB terão de encontrar respostas à medida.
Quanto aos outros níveis de competição se todas as equipas se inscreverem, coloca-se sérias dúvidas se o torneio pode ser disputado em dez dias. Sete equipas para uma vaga na Liga Feminina é algo difícil de concretizar. Doze equipas para duas vagas para o Campeonato nacional da 1ª divisão masculina, são só alguns dos exemplos.
Mas será justo um jogador disputar este torneio prévio e depois se a sua equipa não subir ficar sem possibilidades de sair para o nível que o atleta pretende realmente jogar? A janela de transferências é entre 15 a 31 de dezembro, desde haja acordo entre clubes. Será que um torneio de qualificação em Setembro é viável? Será justo em termos de verdade desportiva? E será seguro? Seguro por certo que não será.
Todos os especialistas do mundo dizem que a segurança só vai chegar quando houver uma vacina ou imunidade. Em Setembro por certo nenhuma destas situações se vai verificar. Assim pergunto qual o protocolo* que a FPB vai usar para levar a efeito tais torneios? Qual a sua responsabilidade se algo acontecer de prejudicial á saúde dos intervenientes? E dos clubes? Será que os jogadores estarão disponíveis para correr esse risco? E os juízes? Que luz o basquetebol nos mostra ao fundo do túnel? 

*Protocolo da Direção Geral de Saúde para o arranque do campeonato de futebol: A FPF, a Liga Portugal, os clubes participantes na Liga NOS e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infecção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública."

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