"Quem se esforça consoante o salário que lhe pagam recebe bem mais do que merece…
Se fores capaz de manter a entrega ao teu trabalho mesmo que sejam os teus colegas a assumir os principais projetos…
Se, sabendo que és tão bom ou melhor do que os outros, souberes esperar sem desanimar ou reclamar, sem garantias de que o teu superior te vai um dia promover…
Se aproveitares cada oportunidade que o teu chefe te concede para provar que estás pronto e és competente, mesmo sabendo que no projeto seguinte serão outros os protagonistas…
Se, ainda assim, fores leal com quem desempenha as funções que gostarias que fossem as tuas e para as quais te sentes mais do que capacitado …
Se, mais ainda, te alegrares genuinamente com o bom trabalho e o sucesso dos teus colegas, enquanto aguardas, sem certezas, pela hora em que colherás os louros...
Se, passando por uma fase difícil que te impede de fazer o que mais gostas, recomeças sem vacilar e sem temer os riscos de ficar irremediavelmente para trás na tua empresa… E usas a provação para te conheceres melhor e voltar ainda mais capaz…
Se, chegando finalmente a tua hora, mantiveres a humildade de saber que não chegaste a destino algum, continuas apenas a meio de uma viagem que nada te garante no futuro…
Se conseguires isso tudo, mais do que um grande profissional, és um Homem. E se estás agora a dizer que até parece que estou a falar de ti, há boas hipóteses de seres o Daniel Bragança.
Não sei se Daniel Bragança chega a este ponto de carreira por ser alguém que usa os obstáculos como combustível ou apenas por ter muito bom feitio e paciência. Não o conheço. Mas sei que no ano que parou para recuperar de gravíssima lesão teve tempo e obstáculos suficientes para se confrontar consigo mesmo e testar os limites e convicções. E voltou mais forte.
Talvez Daniel Bragança tenha percebido desde sempre que, mais do que para uma empresa, todos nós trabalhamos em primeiro lugar para nós mesmos. A aposta na capacitação profissional é um processo que deveria ser independente do sucesso ou reconhecimento. A primeira, sendo essencial, nem sempre leva ao segundo, por muitas razões que não controlamos. Por isso fico desiludido sempre que oiço alguém desabafar que «se a minha empresa não me valoriza e não me paga o que mereço, então também não estou para me ralar…». Quem assim fala não está a desrespeitar a empresa, está a desrespeitar-se a si próprio. Quem faz depender o esforço e a dedicação do nível do salário que lhe pagam ou dos projetos que lhes dão, seguramente ganha mais do que merece. Já para quem ama o que faz, a dedicação não é consequência, é pressuposto. Não vendemos dedicação, apenas trocamos tempo por salário.
Dirão alguns que tudo isto pode ser muito bonito, mas não é com filosofias que se pagam as contas. Podem não pagar, mas dão algo que ainda é mais importante: o respeito dos outros; gostar do que vemos ao espelho e uma noite bem dormida com quem temos de nos deitar todos os dias: a consciência. O dinheiro acabará por chegar de algum lado, o respeito apenas de nós mesmos."
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