"Nesta semana vamos imaginar. Vamos imaginar que somos profissionais de uma determinada área e temos de discutir o valor do nosso salário. Mecânico, médico, empresário, trabalhador por conta de outrem, não importa. Vamos imaginar que alguém acima da nossa entidade patronal decide que eu, você ou nós não podemos ganhar mais do que 550 mil euros por ano, cerca de 40 mil euros/mês se incluirmos subsídios de férias e de Natal. É um belíssimo ordenado, atenção. E quem dera à imensa maioria da população poder ter esse dinheiro a entrar na conta todos os meses, mas imaginemos que valemos ainda mais, que outra empresa nos quer contratar e subir a parada. E que isso não é possível porque alguém decidiu que, por uma questão de igualdade entre empresas, tem de ser criado um tecto salarial. E que esse limite de pagamento é aplicado só aos funcionários do género masculino.
É isto que se está a passar no futebol feminino em Portugal, podem para de imaginar. Esta é a realidade. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) determinou um tecto nos salários das jogadoras, e estas já admitem avançar para tribunal, criando também o manifesto Futebol sem Género, assinado por quase 150 atletas, a exigir igualdade de género em Portugal, e só cerca de 5% delas recebem mais de 1000 euros por mês.
A FPF defende-se com a necessidade de equilibrar o futebol português, mas será esta a melhor forma? Um primeiro passo poderia ser a garanta de um salário digno para as praticantes, uma base mínima, em vez de um tecto. Tendo em conta que cerca de um terço das praticantes profissionais da divisão principal em Portugal não recebe para jogar à bola, que tal combater essa injustiça? Ma seu compreendo... não é fácil ver um projecto como o do SL Benfica triunfar, dar cartas e servir de exemplo. Mais vale tentar já cortar a possibilidade de outras estrelas internacionais vestirem a camisola do Glorioso."
Ricardo Santos, in O Benfica
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