"Que fiquem as análises técnicas para os especialistas, para os que tudo sabem, anotam e decoram. É uma sabedoria que respeito e admiro, mas que não partilho, já que o meu olhar se demora muito mais nas emoções e nas impressões fugazes, que costumam ser as do espectador comum e anónimo cujo coração bate ao ritmo do grande massa de adeptos que associa o Benfica ao desejo de vitória com o qual uma grande parte dos Portugueses se identifica, sobretudo em tempo de generalizada descrença e de persistente falta de alento.
O Benfica dobrou a metade do Campeonato, espécie de Cabo da Boa Esperança, numa promissora posição de liderança que foi confirmada com mais uma excelente exibição frente ao esforçado Vitória de Setúbal, com um bom guarda-redes, uma defesa demasiado vulnerável e com parcos argumentos para travar o fluxo ofensivo de uma equipa confiante nas suas capacidades e na força moral que abre o caminho para os títulos que a História regista.
Disse um grande poeta e ensaísta norte-americano, de nome Erza Pound, que a técnica, na escrita poética, é tanto mais importante quanto menos nos damos conta dela. E isso acontece quando essa técnica se converte, para quem escreve, numa verdadeira 'segunda pele'. Com propriedade, poderá aplicar-se esta ideia ao Benfica actual, já que a técnica que milita a favor das suas boas exibições é tão natural e fluente que nunca se sobrepõe à alegria de jogar e à capacidade de fazer golos. A média tem sido de quatro, os últimos jogos, o que significa que a pontaria está certeira e que o trabalho colectivo não cessa de dar frutos.
Não faltam os jogadores certos para todas as posições, sendo visível a força e a agilidade de uma equipa que nunca deixa que a arquitectura táctica cerceie a criatividade individual e o talento exibicional. O Benfica de hoje conseguiu o ponto de equilíbrio ideal entre essas duas componentes que fazem a diferença e nos fazem confiar cada vez mais num epílogo triunfante. Força, Benfica!"
José Jorge Letria, in O Benfica
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