"Eusébio, que Deus o guarde por muitos e bons anos, conseguiu aquilo de que só uma elite pode gabar-se: a imortalidade em vida.
Estátuas, nome de ruas e de um avião da TAP, tudo isso faz parte de excepcionalidade que separa Eusébio da Silva Ferreira do comum habitante do planeta. Como explicar o fenómeno-Eusébio? Não é fácil. O king atingiu o auge quando a televisão era a preto e branco e ir a Badajoz era considerado ir ao estrangeiro. Mas, mesmo assim, continua a ser reconhecido como se de Cristiano Ronaldo - estrela nascida na aldeia global - se tratasse.
Viajar com Eusébio e assistir às manifestações com que é acolhido é uma coisa como a Coca-Cola, primeiro estranha-se depois entranha-se. É perceber como todos são iguais mas alguns são mais iguais que outros. É, enfim, partilhar momentos com uma lenda viva, a derradeira lenda viva portuguesa... Tive oportunidade de privar directamente com Eusébio durante vários anos e depois disso temos mantido um contacto regular. Conheci-o no início dos anos 80, quando ele regressou ao Benfica, primeiro como treinador dos juvenis, depois como treinador dos guarda-redes. Já lá vão 30 anos, o king ia nos 40, já tinha o joelho muito maltratado mas, mesmo assim, continuava a rematar como ninguém, para mal dos pecados do Bento, do Silvino, do Neno e meus também. O que Eusébio mais gostava de fazer era colocar meia dúzia de bolas na linha da grande área e rematá-las, de rajada, dizendo antes para onde ia chutar. Dessa forma, a humilhação do guarda-redes era maior, porque nem por saber que a bola ia para a direita ou para esquerda, para cima ou para baixo conseguia defendê-la (salvo raras e honrosas excepções a que Eusébio respondia, «essa não valeu!»). Hoje, celebramos os 70 anos do maior jogador português de todos os tempos. Deve ser um dia de festa colectiva, porque Eusébio, apesar de todo o benfiquismo que transporta agarrado à pele é, de facto, património nacional. E é também património da humanidade. Mas antes disso é nosso. Muito nosso..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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