"Até eu tenho, passe o exagero, milhentas histórias com Eusébio. A primeira, era eu muito miúdo, não mais de 10 anos, aconteceu no Paco, na Avenida de Berna: tímido, picado por minha Mãe, papel na mão... saquei-lhe um autógrafo; anos depois, já espigadote, houve no Estádio da Luz um daqueles jogo/festa que metia jogadores de múltiplos países e vedetas da TV, e levado por meu Pai, naquele frenesim de final de jogo, quando lhe apertei a mão, ouvi-lhe carinhosamente «és filho do Amadeu?»; no início da década de 80, na primeira vez que fui a Moçambique, foi a seu lado, e do senhor Mário Coluna, que tive a felicidade de conhecer essa figura imensa que foi Samora Moisés Machel; finalmente, para não ser fastidioso, jamais esquecerei duas noites de convívio fantástico nos Açores, quando A BOLA muito bem decidiu agraciar Pauleta. Porém, aquilo que me traz aqui passou-se em 1972, quando Luanda foi brindada com a visita do Benfica de Lisboa (era assim que a malta dizia) para um jogo com o Benfica de Luanda. Nessa noite cálida, Estádio dos Coqueiros repleto nos seus 12 mil lugares. Obviamente muito nas calmas, o SLB goleou: 8-0, como A BOLA confirmava (que comprei três/quatro dias depois, como sempre fazia, a 50 escudos de então cada exemplar), deliciando-me a ler o que o saudoso Homero Serpa escreveu e eu vi. Bom, o SLB goleou, mas até ao 7-0 sem qualquer golo de king. Até que aconteceu uma falta aí a uns 10 metros da grande área e o povo gritou a plenos pulmões «Eusébio, Eusébio, Eusébio». E Eusébio fez-lhe a vontade. Bola batida com perícia, não em força, mas em jeito, que o bom do Magalhães não conseguiu travar, nem a barreira fez por isso, pois reverencialmente curvou-se o mais possível, assim ao jeito da saudação dos encarnados aos adeptos, para que o MAIOR deixasse a sua marca. A exemplo dos jogadores do Benfica de Luanda naquela saudosa noite, aqui estou eu, meu querido amigo KING a dar-lhe os parabéns, disposto a fazer o mesmo daqui por mais 70 anos. Seria óptimo para ambos..."
José Manuel Freitas, in A Bola
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