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terça-feira, 18 de julho de 2023

Efab⚽lação (40) Topos de gama e taxas de esforço


"Acordo com “notícia” de centenas de jovens eufóricas a marcar lugar na primeira fila de um concerto musical com início mais de 24 horas depois e em protesto contra a falta de condições do recinto.
Logo seguida de “entrevista” com ministro preocupado com os portugueses que não suportam a “taxa de esforço” para pagar a renda da casa e têm de ser ajudados pelos outros, os que aguentam, ai aguentam, aguentam.
E da “reportagem” à porta do tribunal onde está a prestar declarações um génio do empreendedorismo e da gestão a quem acabam de ser confiscados 18 Ferrari, Lamborghini, Bugatti, Aston Martin e Rolls-Royce, apesar de o seu meio de transporte regular ser o helicóptero.
Num dos jornais fala-se de despovoamento e da sentença de morte das aldeias do interior, cujo “futuro é ir fechando as portas”.
Já não tenho idade para entender o meu país e suporto mal sentir-me estranho a esta bipolaridade entre o novo-riquismo financeiro e o subsidiarismo económico em que vive uma larga franja da sociedade.
Viro-me para a bola.
O Benfica enche de euforia um estádio para um ensaio na Suíça, pondera pagar oito milhões de euros de salário a um jogador que ninguém quer na Europa e prepara-se para contratar o décimo reforço em doze meses, ultrapassando os 150 milhões de euros em compras no estrangeiro, desde o verão passado.
O FC Porto recusa todos os dias uma oferta de 15 ou 20 milhões, às vezes mais, pela sua garagem de topos de gama, de Diogo Costa a Taremi, passando por Otávio, e respira saúde financeira, talvez até capaz de encarar o esforço de construir o seu próprio centro de formação e sair, finalmente, do programa de renda social no condomínio do Olival.
O Sporting marca lugar na primeira fila para conhecer o seu jogador mais caro de sempre, ao mesmo tempo que estuda a “taxa de esforço” para pagar um plantel muito acima das suas possibilidades no limiar de um ano terrível em que só uma genial gestão desportiva e económica pode manter o clube no seu nível histórico. Cristiano Ronaldo, o outro português proprietário de um Bugatti de oito milhões, num raro assomo de modéstia, anuncia que não volta a jogar na Europa, trocando uma casinha na cidade por uma tenda nas dunas sauditas, porque as Ligas europeias perderam muita qualidade, estão em processo de “desertificação” como as aldeias das berças. Regresso ao mundo.
Na televisão mostram um termómetro com 52º graus no Vale da Morte e dizem que é por causa das “alterações climáticas”: finalmente uma notícia em que tudo faz sentido."

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