Últimas indefectivações

terça-feira, 6 de julho de 2021

Cadomblé do Vata


"Escrever que admiro guarda redes desde pequenino, seria induzir o leitor no erro de pensar que sou alto. Na verdade, sou admirador de guarda redes desde... sempre. Será sem surpresa que vão ler que os nomes que mais me cativaram foram de antanho, porque é normal o ramo da Admiração resvalar imparavelmente para a Nostalgia. Bento (tão pequeno quanto grande), Preud'homme (Prédóme em algarvio correcto), Baía (oh triste heresia que me atacas), Bernard Lama (como Saint Michel, outro desgraçado nas garras de Artur Jorge), Silvino (do Sp. Espinho, que com 1,60 me fazia acreditar ser possível jogar na Primeira Divisão), Koepke, Immel, Ilgner, Schumacher, Reck (cujas fotos decoravam as embalagens de luvas Reusch, que os meus pobres pais me compravam para eu estraçalhar no pelado), Buffon (o melhor guardião da historia de todas as modalidades que usam guardiões), ou o meu primeiro Herói das Balizas, Walter Zenga (que conjugava a mesma quantidade de genialidade como de mau feitio), fazem parte do meu imaginário épico das balizas.
Já me tinha esquecido de como gosto de um bom guarda redes, até ver Donnaruma no Itália - Bélgica assinar com caneta de tinta permanente, o seu nome na lista de herdeiros dos atrás mencionados. Numa era de "porteros" eficazes, quase inultrapassáveis, que salvam as equipas defendendo com os pés, o peito, a cabeça e tudo o que vier à mão, menos as mãos, o italiano recuperou a elegância da defesa, a arte de quase pairar em vôo e a presença que ultrapassa os seus 2 metros de altura. Foi a ver Gigi II espalmar uma bola de De Bruyne que me pus a pensar sobre qual seria o guarda redes da minha vida e confesso, a conclusão foi quase chocante.
Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros. Neno. O cabo verdiano que na fase madura da carreira se viu obrigado a jogar com uns pés pouco capacitados para tal e a dominar o espaço aéreo da pequena área com as vertigens à flor da pele, é o redes da minha vida. Muito provavelmente da vossa também e não sabiam. Senão, vejamos: FCPorto - Benfica do César Brito; Arsenal - Benfica do Rafa Silva... Benfica - Boavista do Futre... Benfica - Sporting do Cherbakov... Sporting - Benfica do JVP... Bayer - Benfica dos cardiologistas. Dos jogões de uma geração, falhou as finais da TCE e a meia final do Vata. E em todos deixou pegada indelével, carimbada em defesas plenas de elasticidade e reflexos incomuns, ou em golos sofridos após saídas falhadas a cruzamentos (que só não apareceram nas Antas) que não só eram a sua marca de água escrita a negrito no curriculo, como uma clara demonstração de coragem. Tantas vezes falhou, mas nunca desistiu de tentar."

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