"Federação Portuguesa de Futebol arrecadou 13,5 milhões de euros com a participação no Euro 2020. A presença garantia 9,25 milhões e o pecúlio máximo poderia atingir 34 milhões. Este modelo de redistribuição de receitas (direitos televisivos e patrocinadores exclusivos do evento) não surpreende pois não é inédito em competições de seleções e há muito que está implementado pela UEFA nas provas europeias de clubes.
Com o montante recebido, as federações financiam os seus custos, além dos eventuais prémios de desempenho aos jogadores. Há ainda as receitas de publicidade e patrocínios, por certo muito significativas, conforme se poderá deduzir da associação de inúmeras marcas à seleção.
Tudo isto seria normal se não fossem os clubes, na prática, eles próprios patrocinadores das seleções, porventura os principais.
Os atletas, além de remunerados pelas federações, continuam a auferir o salário das suas entidades patronais. Arriscam problemas físicos ao serviço de outrem, acumulam cansaço, encurtam férias, não participam nos treinos da equipa a que pertencem e são sujeitos a regimes diferentes, do alimentar ao preventivo de lesões, entre outros. A única vantagem para os clubes passa por uma eventual valorização dos passes dos atletas, além de uma compensação ínfima face aos custos salariais (no mundial de 2018, os clubes receberam 7100 euros por dia por atleta convocado).
Não quero ser mal-entendido: adoro competições de seleções e defendo a justa retribuição dos atletas. Porém, é por estas e por outras que, ciclicamente, surgem manifestações por parte de clubes em prol da criação de uma superliga europeia fora da égide da UEFA.
Bem poderão afirmar as federações que parte das receitas são canalizadas para a promoção do futebol a vários níveis e sob diversas formas, mas então que assumam, no mínimo, que são os grandes clubes quem, de facto, financia esses mecanismos. Até porque, num cenário justo, os clubes seriam recompensados pela totalidade dos custos salariais com os jogadores ao serviço das federações."
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