Últimas indefectivações

terça-feira, 6 de julho de 2021

Reflexão sobre a formação dos treinadores portugueses: «Um micro-facto poderá provocar uma macro-consequência»


"Passado o clamor das opiniões de diretores, comentadores, políticos, jornalistas, treinadores, entre muitos outros, sobre um facto particular que direcionou a atenção dos portugueses, sobre a formação dos treinadores de futebol, este momento de acalmia parece ideal para realizar uma reflexão, descentrando o foco da discussão sobre um micro-facto, analisando o conteúdo das sombras produzidas.
Com toda a certeza que a generalidade dos portugueses não considera o desporto como o filho de um deus menor. Por conseguinte, não estará em causa a essencialidade de todos os treinadores deterem um determinado grau de formação específica, no sentido de conduzir e liderar uma equipa de futebol. Tal formação é função dos diferentes grupos etários dos jogadores que estão à sua responsabilidade, desde a formação ao alto rendimento.
As exigências da certificação das entidades formadoras da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) obrigam à necessidade dos treinadores que intervenham com crianças e jovens dos 4 aos 18 anos apresentarem um determinado grau de formação específica para exercerem tais funções. Caso não apresentem essa condição básica, entre muitas outras, dificilmente poderão ser consideradas entidades formadoras, não beneficiando assim das vantagens que derivam de tal estatuto (lembra-se que cerca de 900 entidades encontram-se neste perímetro).
1. Questões Iniciais
Terá sentido que os jovens em meio escolar usufruam da formação específica de todos os seus professores, em diferentes áreas do conhecimento, e no meio desportivo estejam sujeitos a um treinador sem formação adequada? A exigência de tal formação não está na linha dos supremos direitos das crianças e jovens, experienciando atividades induzidas por técnicos com competências para o exercício dessa atividade?
Será despropositado que tais competências não sejam exigíveis aos treinadores de alto rendimento? Será que treinar jovens deve obedecer a uma regulação formativa especializada dos seus treinadores e dispensável ao nível profissional? Será que treinar jovens é mais responsável que treinar profissionais? As limitações dos treinadores não serão impactantes no desenvolvimento cognitivo e fisiológico dos jogadores? Uma lesão que possa derivar, objetivamente, da utilização de métodos de treino desapropriados no alto rendimento é menos responsável que na formação?
2. Treinador de Futebol
O treinador é um gestor de um capital humano, estabelecendo e desenvolvendo um processo racional de treino e competição, baseado num esforço individual e cooperativo, de modo a atingir objetivos comuns que, de outra forma, não poderiam ser concretizados. Em virtude das funções absolutamente necessárias à eficaz condução de uma equipa de futebol, o treinador terá que estudar e desenvolver, antecipando ou resolvendo, em cada momento, problemas que cada contexto situacional exige e condiciona. Questiona-se: há possibilidade de controlar a qualidade deste processo, caso o treinador não adquira competências específicas no âmbito de um trajeto formativo prático/teórico a longo prazo?
No futebol não existem soluções perfeitas e definitivas, a resolução de problemas no treino e na competição é sempre suportada por adaptações em função da emergência situacional em constante alteração. Logo, os treinadores lideram um processo complexo, dinâmico e com uma enorme margem de imprevisibilidade, pois estes são os elementos essenciais da lógica interna do jogo, tanto na formação como no alto rendimento.
Neste quadro, todos os elementos que o circundam desde a formação, o desenvolvimento e a evolução de uma equipa de futebol, baseia-se em pressupostos metodológicos, fisiológicos, psicológicos e sociais, suportando-se em hipóteses e predições. Para tal, utilizam-se informações do passado e do presente, projetando-as no futuro. Quanto menos o treinador entender estas singularidades menos saberá como as controlar e manipular.
A definição de liderança é formulada de diferentes formas. Contudo, de forma simples e direta, liderar uma equipa é fazer-se os possíveis para ajudar todos os jogadores, de modo que estes possam realizar o seu melhor individualmente, potenciando-os na direção da equipa. Para tal, o treinador utiliza a sua ação persuadindo, criando climas de confiança e dinâmicas sociais adequadas às capacidades momentâneas dos seus jogadores. Ao focar-se somente em pequenos e grandes detalhes da organização dinâmica da equipa, eles retraem-se profissionalmente, reduzindo e simplificando a ampla riqueza de domínio estratégico e tático do jogo de futebol.
A essência de uma equipa de elevado valor é, precisamente, que cada jogador encontre na equipa técnica e nos diferentes colegas o que lhe falta, tornando-se mais capaz. Ganhando confiança nas capacidades adquiridas e, posteriormente, sentindo-se mais seguro, de modo a ajudar e a interagir com os outros.
3. Treinador e o Mundo
Numa sociedade importa que os seus cidadãos saibam realizar escolhas conscientes, no sentido de melhorar as suas condições de vida. Consequentemente, os treinadores necessitam de adquirir conhecimentos e competências sobre as formas e meios que possibilitem aos seres humanos sob a sua responsabilidade poderem tirar o melhor de si próprios, elevando a sua dimensão humana e desportiva, desde a formação ao alto rendimento. Não existirão jogadores de qualidade sem treinadores com uma formação de qualidade.
A UEFA e a FPF assinaram um convénio, normalizando as condições e as exigências formativas (nº de horas, áreas temáticas específicas, etc.), no sentido de um qualquer treinador português, quando credenciado, independentemente do grau adquirido, poder manter o seu estatuto e desenvolver as suas competências profissionais em qualquer país do mundo. Caso tal convénio não existisse, teríamos nós tantos treinadores a trabalhar nos cinco continentes? Demonstrando deste modo o valor dos treinadores e a sua formação, marcado a nossa presença em diferentes áreas inerentes ao desenvolvimento do futebol no mundo.
Dificilmente alguém negará a evidência e a importância dos factos enunciados. A escolha é simples, prefere-se ter treinadores conscientemente competentes ou (in)conscientemente incompetentes?
Neste quadro poder-se-á, igualmente, uma vez que também participam neste movimento formativo, equacionar qual a utilidade das universidades de desporto, em Lisboa, Porto, Coimbra, Algarve, Trás-os-Montes e Alto Douro? Os doutorados, mestrados, licenciados destas instituições o que fazem todos os dias? Formam, investigam e acumulam informação pertinente, mas para que serve social e profissionalmente? Existem questões, socialmente essenciais, que não podem ser analisadas de forma simplista e redutora.
Vejamos um facto simples da nossa existência. Diariamente olha-se o céu, com o intuito de se prever as condições climatéricas para o dia seguinte. A experiência que daí advém não traduz, automaticamente, que cada indivíduo seja especializado em meteorologia, mesmo que consiga acertar mais vezes do que errar. Prever o estado do tempo é uma tarefa que obedece a uma ‘lógica’, concretizada pelo cálculo da interação de múltiplos fatores, provenientes de diferentes fontes. Sendo através da interpretação, compreensão e significado da estrutura envolvente (meio) que é possível elaborar (prever), limitando o número de eventualidades, o futuro mais provável face à realidade estudada e refletida.
Não sou médico, mas a minha experiência adquirida como treinador de futebol garantiu-me, em certos momentos, fazer diagnósticos mais rápidos que o próprio médico do clube. E mesmo discutir com ele formas de tratamento do jogador. Este facto não faz de mim um médico especializado em contusões, roturas musculares, entorses, etc., mesmo que acerte mais vezes do que erre, pois, continuarei a ser conscientemente incompetente.
Alex Ferguson, refere que «o estudo prático/teórico do futebol, bem como a sua difusão na formação dos treinadores ampliou o seu desenvolvimento e evolução». Assim aos mais céticos do valor formativo dos cursos de futebol, refiro: se a formação não é importante, então agarre-se à sua ignorância para resolver problemas.
Existe um exagero, em certos níveis competitivos, enfatizando-se o resultado e a classificação final das equipas. Para alguns, será a parte que afere as competências do binómio treinador/equipa. Contudo, o processo de preparação da equipa, embora seja menos visível, é determinante para o resultado final. Os troféus alcançados por Rinus Michels ficam aquém de treinadores do seu tempo. Porém, em 1999 foi eleito pela FIFA o ‘Treinador do Século XX’. A sua eleição baseou-se no facto de ter desenvolvido ideias, conceitos e princípios operacionais de jogo, inspirando grande parte dos seus predecessores.
4. Tempo, Admissão e (Des)Igualdades
No calor discursivo do micro-facto da formação dos treinadores, outras questões foram equacionadas. Relacionam-se com a sua duração temporal, a admissibilidade dos candidatos aos diferentes graus, bem como os momentos em que estes poderão ser realizados.
Relativamente à primeira questão, alguns, terão uma variação temporal entre 6 a 8 anos para completar o grau IV (UEFA-Pro), mas os treinadores que foram contratados por algum clube das ligas profissionais (antes de terem a formação adequada à função) há muito que beneficiam de um atalho que encurta tal processo para 2/4 anos. Tal acontece em virtude da FPF possibilitar a realização, em simultâneo, do grau II com o III ou do grau III com o IV.
E mais, caso o treinador tenha sido jogador profissional, com um determinado nível, porventura, já terá beneficiado da isenção da frequência do grau I, começando a sua formação no grau II. E, posteriormente, em virtude de ter um contrato profissional com um clube da Liga ou Liga 2, realizará o grau III e IV em simultâneo.
No final, completará o nível UEFA-pro entre 2, 3 ou 4 anos. A visão apocalíptica evidenciada por algumas pessoas sobre esta questão não tem qualquer sentido. Mas sim, reforça-se, para aqueles que não tendo algum mediatismo social percorreram o ciclo formativo sem atalhos. Logo, apesar de num estado de direito todos os cidadãos serem iguais perante a lei, existem sim desigualdades e assimetrias no tratamento dos treinadores.
Contudo, este facto levanta várias questões que importa relevar. Compreende-se que um treinador que tenha sido jogador profissional tenha algumas vantagens relativamente a outros que não o foram. Se, porventura, Cristiano Ronaldo pretender ser treinador de futebol, qual o grau inicial em que deverá enquadrar-se na sua formação? Poderá ser comparado a um qualquer outro jogador? Será que CR7 precisará de algum tipo de formação específica para ser treinador de futebol? Deixo um simples testemunho. No âmbito das minhas atividades na Federação Croata de Futebol do III e IV grau, fui confrontado com a inscrição de Luka Modric no curso de formação de treinadores. Perguntei se tinha algum tipo de privilégio. A resposta foi não. Exceto realizar práticas, de modo a evitar a possibilidade de se lesionar e prejudicar o clube a que pertence.
Sobre a admissibilidade ao grau III e IV, existe um regulamento sobre a necessidade de o treinador ter um contrato profissional de treinador (na formação ou no alto rendimento). Tais cursos estão condicionados pela convenção da UEFA (grau III, realizando-se anualmente com 30 formandos, e o grau IV, bianual, com 25 formandos). Deverá este facto ser considerado uma forma de corporativismo? Se tal não existisse, os treinadores portugueses teriam acesso a outros países? Poder-se-á evocar que a UE interviria nestes casos, contudo somente serviria nos países que lhe estão associados. E quanto ao resto do mundo, como se resolveria a questão?
É admissível questionar-se sobre a possibilidade de haver uma maior flexibilidade relativamente ao número de treinadores a serem admitidos, bem como os cursos serem realizados com maior frequência. Ao ampliar-se as condições de admissibilidade e frequência dos cursos irá infligir-se as regras inscritas no convénio com a UEFA. Tendo repercussões no reconhecimento dos treinadores quando pretenderem passar a fronteira do país. A Espanha, em virtude de ter regiões autónomas, já o tentou, contudo nenhum desses treinadores teve reconhecimento pela UEFA. Ora, dentro do país podem ser reconhecidos, mas quando saem das suas fronteiras, esfuma-se o seu reconhecimento.
Como princípio geral, todo o cidadão deve ter acesso a qualquer profissão. Para tal, terá de frequentar um processo formativo especializado e reconhecido nacional e, caso seja útil, internacionalmente. Para tal existem instituições que regulamentam e certificam a formação realizada. Poderá parecer um processo burocrático, mas não é assim para a maioria das profissões? Como se regulava tal mercado? Há muitos anos que as universidades de medicina mantêm um número de alunos/ano, restringindo a possibilidade de muitos deles poderem frequentar tal curso. Alguns saíram do país, em virtude de não cumprirem os pressupostos de entrada na universidade. Provavelmente, a questão que se coloca são as relações inerentes à quantidade versus qualidade.
Não existem soluções perfeitas, o que existe são soluções mais racionais, congruentes e abrangentes que outras. Analisar um problema em função de um ou dois casos ajuda a analisar as qualidades de um sistema, mas, provavelmente, não será a melhor forma de o melhorar. «Olhar para a árvore não será o melhor método para analisar uma floresta».
5. Estratégia Formativa
Participei durante 15 anos na formação dos treinadores portugueses, relativamente, ao grau III (UEFA – advanced) e IV (UEFA - Pro) da FPF. Por vontade própria, em 2018 deixei de fazer parte do grupo de preletores dos referidos cursos de formação. Sendo que as áreas em que cooperei, como treinador, foram a técnico/tática e a metodologia do treino, ou seja, áreas com maior ponderação na avaliação final dos treinadores.
Entre 2005 e 2006, com a concordância da FPF, liderei um grupo de peritos em diferentes áreas do conhecimento, renovando e inovando os conteúdos programáticos de todos os cursos de treinadores, desde o grau I ao grau IV. Considerava-se, nessa altura, que os conteúdos programáticos existentes estavam desatualizados perante a realidade e as exigências do jogo, bem como a dispersão sobre os conteúdos a desenvolver pelos diferentes formadores das associações de futebol.
A afetação da complexidade de conteúdos em função dos graus de formação promoveu a estabilidade, bem como a normalização de pontos de convergência entre os vários formadores, de modo que as competências exigíveis aos formandos fossem uniformizadas.
A estratégia era formar profissionais qualificados em treino de alto rendimento. Oferecendo competências ao treinador português, de modo que este pudesse entrar no mercado nacional e internacional, com elevadas capacidades e reduzidas possibilidades de erro. Contudo, sabia-se que somente uma pequena parte dos treinadores com o grau III e IV teriam a possibilidade de atingir o alto rendimento. Foi um risco calculado, com ganhos a curto e médio prazo.
Nuno Espírito Santo, Marco Silva, José Gomes, Paulo Sousa, Paulo Bento, Paulo Fonseca, Vítor Pereira, Pedro Caixinha, Pedro Martins, Pedro Emanuel, Miguel Cardoso, Jorge Costa, Sá Pinto, Van der Gaag, Sérgio Conceição, Bruno Lage, Daniel Ramos, Petit, Luís Castro, Pepa, Ivo Vieira, António Folha, Nuno Manta, Lito Vidigal, Nandinho, Pedro Espinha, Pedro Roma, Rui Jorge, Rui Bento, Rui Vitória, Romeu Correia, Emílio Peixe, José Guilherme, Felipe Ramos, Hélio Sousa, Brassard e Emanuel Ferro, entre muitos e muitos outros, passaram por este percurso formativo. Não havendo nenhum ruído mediático ou social.
Em múltiplas ocasiões a UEFA, como é normal, enviou técnicos para verificarem ‘in loco’ como os cursos da FPF decorriam. Os seus relatórios foram unânimes sobre a qualidade e as condições oferecidas aos treinadores na sua formação.
Esta estratégia incluía, também, a criação de uma escola nacional de treinadores e o desenvolvimento de manuais técnicos. Objetivos que, por diferentes razões, não foram possíveis de materializar.
Há muito que a linha estratégica diretora inicial deveria ser reajustada às diferentes realidades profissionais dos treinadores, bem como os conteúdos programáticos que resistem ao tempo, mas não há erosão provocada pela evolução do jogo. O jogo transforma-se desde uma visão micro a macro, relativamente às várias áreas específicas, tais como a estratégia, a tática, a fisiologia, a psicologia, a sociologia, a gestão e a liderança, entre muitas outras.
Refere-se com toda a justiça que os treinadores portugueses são de elevada competência. A questão que se coloca é: estando o futebol em constante evolução, passados 10 anos, não será altura de se implementar uma renovação em tais conteúdos programáticos, em virtude das exigências do futebol atual, bem como de uma formação que se pretende multifacetada e de excelência, adaptada a diferentes contextos competitivos? Antecipar uma realidade que irá acontecer no futuro é encontrar no presente as soluções mais apropriadas. De que vale esperar que outros países nos ultrapassem e, posteriormente, encararmos uma realidade que desde já conhecemos?
6. Entorses da Formação
Poder-se-á questionar: qual o benefício para o formando e o futebol nacional que todos eles tenham um itinerário formativo apontado para um objetivo, sabendo-se, plausivelmente, que jamais lá chegarão? Não seria mais apropriado que a formação fosse constituída por blocos formativos que correspondessem às necessidades de grupos de treinadores, em contextos profissionais semelhantes em que se circunscrevam?
Vejamos dois exemplos práticos. Quais as razões para um treinador de guarda-redes que pretende, somente, treinar guarda-redes, ter que passar por uma formação que em absoluto pouco ou nada lhe trará para a sua atividade específica? Quais as razões de um treinador da formação ter de passar por conteúdos programáticos e critérios de avaliação absolutamente idênticos a um treinador de alta competição? O que ganha o futebol nacional com este gasto de tempo e energia quando o que se transmite pouco se relaciona com o contexto em que está inserido? Haverá algum constrangimento em se especializar a formação dos treinadores, de acordo com as suas necessidades e os seus próprios interesses? Porque não desenvolver diferentes caminhos formativos, oferecendo competências especificadoras nas suas diferentes áreas de atividade?
Se pretendemos manter-nos neste jogo infinito, influenciando-o perpetuamente, há que entender que as regras deste jogo estão constantemente a mudar e os participantes são múltiplos, entrando e saindo do sistema a qualquer momento. Se a mentalidade for que nada existe para mudar, haverá o declínio das competências dos nossos treinadores, quando comparados com outros dos demais países. Importa traçar-se uma rota. E, nessa rota, só existe uma posição: ou estamos à frente ou atrás.
Enquanto houver muitos e competentes treinadores portugueses em equipas de elevada exigência, e espera-se que continue a haver, poder-se-á pensar que a formação está sempre no bom caminho? Há que existir vontade política e técnica de responder à diversidade das exigências dos treinadores e do futebol.
Criará a UEFA problemas? De todas as reuniões em que participei, jamais verifiquei que uma boa ideia não fosse atendida. E quando estas são consideradas benéficas, de imediato são divulgadas às outras federações. Será que não importa sermos inovadores? Para atingir um objetivo é essencial perspetivar uma causa. E não somente observar os obstáculos para atingi-la. Os obstáculos fazem parte do processo e do trajeto para atingir o objetivo, não constrangendo a vontade de o alcançar.
7. Cultura Formativa
É essencial criar uma cultura formativa dos treinadores, baseada numa causa justa. Um propósito com significado, empenhando-se e contribuindo para a valorização de algo que é maior do que cada um individualmente.
Para tal, a FPF necessita de equacionar e criar novas condições ao departamento de formação, de modo que estes se sintam valorizados com o que fazem e absolutamente confiantes entre eles próprios. Potencia-se, determinantemente, a flexibilidade existencial de transformação da formação dos treinadores.
Caso contrário, irá definhar de modo contínuo, passando a ser um simples formalismo burocrático. Perde o respeito dos clubes e dos treinadores. Pois, independentemente da legislação, os clubes têm a liberdade de contratarem quem consideram merecer a sua confiança (com ou sem formação adequada).
Os treinadores também parecem não ver nestes cursos a oportunidade para aprenderem e evoluírem, mas somente para obter o diploma UEFA. Todos os cursos têm como missão acrescentar valor às competências de cada treinador, através das quais compreendem a diferença entre o que conhecem e desconhecem relativamente ao contexto em que se encontram.
As declarações públicas de um treinador da Liga - cito: “agora vou despachar o 4º nível” - são a manifestação objetiva que certos treinadores consideram que as suas competências não terão qualquer acréscimo de valor frequentando tal curso. É inútil, é uma perda de dinheiro e tempo. Seja pensado ou mencionado é uma situação preocupante e um sinal que importa esclarecer. Será que tem razão? O verbo despachar significará que nada acrescenta ao seu amplo e infindável conhecimento. Se, porventura, o curso de formação da FPF apresentasse preletores como José Mourinho, Pep Guardiola ou Jurgen Klopp, atrevia-se tal treinador a expressar tal verbo?
8. Objetivo da Formação
A formação da FPF tem como função ajudar os treinadores a saber fazer o que já executam melhor, mas também induzi-los a outras formas de resolver problemas de diferente ordem. Envolvendo-os num processo inclusivo e integrador de desenvolvimento individual e coletivo. Cada treinador, quando num ambiente particular, compromete-se sem questionar se o tempo e energia gasta é ou não proporcional às possíveis recompensas. Os nomes dos vários treinadores que foram referidos são a prova disso mesmo.
Importa que todos os treinadores sejam capazes de potenciar o presente projetando-o no futuro, isto é, realizar-se sempre mais com as competências existentes. Explorando ao máximo as suas margens potenciais de desenvolvimento. E, principalmente, sentindo-se inspirados para voltar ao processo de treino com instrumentos e competências valorizadas, numa dimensão maturacional humana e desportiva.
Finalizando, os treinadores têm de acreditar e ter confiança na qualidade dos formadores que estão à sua volta, sentirem que estes se preocupam realmente com eles. Logo, a melhor forma para que os treinadores sintam que a FPF se preocupa com eles é, simplesmente, importar-se com eles."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!