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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Foi um Félix que lhes deu

"Mesmo para um adepto moderadamente optimista, surpreende a extensão das mudanças na equipa do Benfica. Se, por um lado, as melhorias servem para provar a sucessão de equívocos tácticos e de abordagem aos jogos que o Benfica vinha acumulando, por outro, demonstram que treinar bem e escolher os melhores é meio caminho andado para o sucesso. O que Bruno Lage fez em quatro semanas prova que a equipa estava tão mal que, até, pequenas mudanças teriam de produzir grande impacto. As recuperações anímicas e físicas são, quase sempre, muito mais consequência do que causa da melhoria da qualidade de jogo.
Em Alvalade viu-se o que já não se via há muito num clássico: um Benfica personalizado, a sair a jogar desde trás, a privilegiar o corredor central e com variações na forma como atacava. Acabaram, finalmente, as bolas batidas na frente, assim como os cruzamentos desmiolados. Talvez mais importante, a equipa pressiona com critério. Aliás, foi na forma como defendeu no campo todo, recuperando a bola e saindo quase sempre em superioridade numérica, que esteve a chave para a vitória convincente frente ao Sporting.
Sem pré-temporada e praticamente sem tempo para treinar, o 4x4x2 que Lage implementou já revela dinâmicas e movimentações que prometem. Mas não é possível separar o sistema das características e qualidades individuais dos jogadores.
Com Pizzi na ala, a equipa ganha equilíbrio; com Gabriel a 8, a circulação de bola melhora muito e João Félix tem sido o jóquer que é sempre necessário nestes momentos. Mas esta ideia de jogo e este sistema dependem de jogadores com características específicas, que não existem no plantel: Jardel e Rúben já saem a jogar com mais frequência, mas falta um central com melhor definição no passe vertical; com Fejsa com muitas limitações físicas, é preciso um 6 capaz de jogar com segurança, na primeira linha, muitas vezes de costas para o jogo (é esse o perfil de Florentino, e a forma como a equipa B joga está, a prazo, a prepará-lo para a tarefa). Acima de tudo, com Pizzi na ala e a aparecer muitas vezes em posições interiores (é o que torna possível o meio-campo a dois), o lateral-direito tem de jogar mais por fora e ter um perfil ofensivo. Não esquecer que o melhor Pizzi foi o que jogou na ala com Nélson Semedo,
Mas o Benfica de Lage não seria possível sem o talento de João Félix. Ele é o suplemento criativo de que a equipa necessitava. Agora que perdeu a inibição típica de quem acabou de chegar ao futebol sénior, revela o que já se antevia na formação: irrepreensível nos espaços curtos, capaz de acelerar o jogo com verticalidade e letal frente à baliza. Acima de tudo, tem a imprevisibilidade na leitura de jogo ao alcance de apenas meia dúzia em cada geração. Foi a partir dos seus movimentos que se construiu a exibição memorável do Benfica em Alvalade."

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