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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Feminismo à la carte

"É uma sucessão de eventos ofegante. Final do Open dos Estados Unidos: um treinador agita os braços na bancada, dando instruções ilegais à sua atleta; essa atleta, a tenista Serena Williams, é penalizada. Enfurecida, chama ladrão ao árbitro, parte a raquete e, após o fim do jogo, acusa o juiz, o português Carlos Ramos, de ser sexista e racista. Se tivesse sido com um homem, alegou, ele teria contemporizado. Segue-se um debate mundial sobre os direitos das mulheres e dos negros nos Estados Unidos, traduzido numa escalada de ódio contra um cartunista australiano que entretanto retratou a birra de Serena com escárnio. Resultado: Mark Knight teve de fechar as contas nas redes sociais. Não sem antes constatar o óbvio ululante: "Como é que se desenha um afro-americano sem que ele se pareça com um afro-americano?"
E eis que uma decisão bem tomada por um dos melhores árbitros de ténis e uma imprudência não assumida (vamos chamar-lhe assim) de uma das melhores jogadoras de ténis degenerou numa guerra global sobre o feminismo. Serena não assumiu o erro (a propósito, a BBC fez as contas e, durante os torneios do Grand Slam de 2018, foram aplicadas 85 sanções aos homens e 43 sanções às mulheres). Preferiu escudar-se no conforto cobarde de uma vitimização estéril, desrespeitando, em primeira análise, aquilo que de tão frutuoso ela própria tem construído em defesa dos direitos das mulheres negras.
A forma obsessiva como hoje as hordas se agigantam por causas inexistentes é assustadora. É o delírio do vazio. O "empowerment" feminino é uma conquista, a cegueira feminista é uma estratégia. Serena teve mau perder. Mais nada. Não pode ser prejudicada por ser negra nem mulher. Nem pode ser beneficiada. A verdadeira vítima desta história chama-se Naomi Osaka. Ganhou a final a Serena, foi vaiada pelo público e pediu desculpa por ter vencido. Na glória, acabou humilhada por um feminismo à la carte."

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