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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Coisas do outro mundo

"Gosto de quem fala de futebol com saber simples de experiência; aprecio menos quem fala como se fosse necessário uma pós-graduação

O Benfica ganhou por 3-1 ao Estoril e Óscar Cardozo não marcou nenhum golo. Está, portanto, em crise, dirão os seus críticos.
Se o paraguaio está em crise é crise de crescimento, caros amigos.
Nesta primeira metade da temporada, Óscar Cardozo não tem parado de nos surpreender. Esqueçam até o mais óbvio, como o impressivo número total de golos ou à sucessão de hat-tricks com que nos vinha contemplando antes de entrar em crise no Estoril.
Concentremo-nos noutros pormenores que têm marcado este Cardozo com um toque de graças anteriormente inimagináveis num tosco, como alguns lhe chamam. Ou melhor, chamavam.
- O homem até já sabe marcar penalties - dizia-me na semana passada um amigo do Benfica.
Referia-se à preciosidade de técnica com que o paraguaio resolveu os dois pontapés de 11 metros na conversão dos respectivos castigos máximos nos jogos com o Sporting, para o campeonato, e com o Moreirense, para a Taça da Liga.
- Uma categoria! - concluiu o citado novo convertido à importância de Óscar Cardozo.
Ainda há, no entanto, resistentes.
Por exemplo, no jogo do Estoril, quando Jorge Jesus insistiu com Cardozo para marcar, pela segunda vez, um pontapé de canto (o primeiro resultara em nada), logo se ouviram estridentes protestos teóricos vindos da bancada. Onde já se viu uma coisa destas, agora o Cardozo a marcar cantos?
Mas à segunda tentativa a coisa correu lindamente. Junto à bandeirola, o paraguaio tomou curto balanço e de pé esquerdo fez a bola cair no calcanhar de Nico Gaitán que, por sua vez, fez o resto. Golo.
- O homem já sabia marcar penalties e agora até sabe marcar cantos - foi o que mais se ouviu de norte a sul do país.
A explicação do treinador chegou no fim do jogo. Pragmático, Jorge Jesus veio-nos dizer que, assim como assim, se o Cardozo raramente faz golos na sequência de pontapés de canto e tendo ele um bom pé esquerdo mais vale tirá-lo da área e pô~lo a bater os castigos.
Sou fã deste modo de trabalhar do nosso treinador. O futebol tem coisas muito complicadas mas também tem outras muito simples. E ele sabe. Gosto de quem fala de futebol com este saber simples de experiência feito, tudo menos a armar ao pomposo. Aprecio menos quem fala de futebol como se para tal fosse necessário uma pós-graduação feita na NASA e um dicionário de sinónimos.

GAITÁN acordou no Estoril. Que bela notícia. E Aimar regressou. Outra boa notícia. A confirmar-se que o Benfica pode contar a 100 por cento com estes dois argentinos para a segunda metade da época podem passar sem ânsias o mercado de Inverno, sem ter de mexer uma palha. Esta é a visão optimista dos adeptos. Aos dirigentes e a outros responsáveis, lembra-se, no entanto, que o optimismo é uma manifestação infantil própria da massa adepta e imprópria de quem comanda.

um género cinematográfico com muitos entusiastas no mundo inteiro que é o género dos filmes-catástrofe. Quando são bons e à série, são normalmente grandes produções de Hollywood com títulos que contam logo a história para todos saberem ao que vão: Tornado, Terramoto, Titanic, Os Últimos Dias de Pompeia, Asteróide...
Há público que tira prazer (que não é doentio) da representação de desgraças e, sabendo que o fim jamais pode ser feliz, vibra intensamente com as peripécias românticas das assustadas personagens e vibra ainda mais com os efeitos sonoros dos efeitos especiais.
É o que passa actualmente com a transmissão televisiva dos jogos do Real Madrid.
Os campeões de Espanha já se despediram da luta pelo título, estão a uma distância obscena do Barcelona, mas em todo o mundo há quem não perca um jogo do Real Madrid na televisão porque as condicionantes de um bom filme-catástrofe estão lá todas: Mourinho, sempre Mourinho, o protagonista. Vai ser vaiado ou vai ser aplaudido? É hoje que vai embora? Joga o Casillas ou joga o outro? E o Silvino já fala ao Iker? E o Florentino Pérez, viram a cara dele?
Isto para dizer que a crise do Real Madrid vende tanto como o Real Madrid em grande, privilégio que não está ao alcance de todos.
No entanto, o mau momento do campeão de Espanha na corrente Liga espanhola terá custado a José Mourinho e a Cristiano Ronaldo os troféus com que a FIFA distingue no início de cada ano o melhor treinador e o melhor jogador do mundo. Andasse o Real Madrid na liderança da sua Liga com meia dúzia de pontos de avanço sobre os da Catalunha e outras decisões teriam emanado da festa de Zurique.
Não são as embirrações dos oligarcas da FIFA contra fulano ou contra sicrano ou, muito menos, movimentos organizados contra este ou aquele país, que explicam a atribuição de prémios de importância mundial. São os resultados. Como sempre, em futebol, são os resultados que mandam em tudo.

MANUEL MARTINS DE SÁ assina há uns bons anos uma coluna neste jornal. Martins de Sá vive em Itália e é de lá que nos escreve todas as semanas pondo-nos ao corrente das grandezas e das miudezas do calcio, da sociedade Italiana e de outras ocorrências de variadas sociedades. É sempre um prazer lê-lo.
Na semana passada, Manuel Martins de Sá, que tem um imenso reportório, foi até à América do Sul para nos contar uma história de arrepiar: «Mais estranho e intrigante é o que acontece na Argentina, onde as claques mais violentas gerem o tráfico de bilhetes e da droga com o apoio da polícia».
Coisas do outro mundo.

AO contrário de Radamel Falcao, que saiu do FC Porto como um fenómeno local para se transformar numa estrela de dimensão mundial ao serviço do Atlético de Madrid, Hulk ainda não conseguiu convencer nem os adeptos do Zenit nem a imprensa russa de que foram bem empregues os 40 milhões de euros que o passe do jogador brasileiro custou aos magnatas de São Petersburgo.
No último fim-de-semana aconteceu até que um jornal russo, o LifeSports, - um jornal russo com nome inglês, onde é que isto já se viu? -, elegeu Givanildo Hulk como o flop do ano, considerando exíguos os 4 golos e as 3 assistências do brasileiro em 16 jogos e considerando excessivos os 7 cartões amarelos na folha do jogador.
Não acompanhando senão ocasionalmente o campeonato russo não há muito com que ter opinião na matéria. Mas é de crer que os árbitros na Rússia apitam à Inglesa. Ou seja, de uma maneira geral não são de interromper o jogo sempre que um dos atletas cai no chão. E em Portugal, onde também fo um fenómeno local, Hulk caía muito, e ao primeiro encosto, o que muito o beneficiava. Aliás, nunca se tinha visto por cá um rapaz tão grande, tão forte e tão facilmente derrubável.

JESUALDO FERREIRA sabe o que é ser técnico de um clube em frangalhos dissecado diariamente por mil notáveis porque era técnico do Benfica no período da guerra cívil que marcou a transição de Jorge de Brito para Manuel Damásio e no período não menos conturbado em que Manuel Vilarinho sucedeu a Vale Azevedo. Agora viu-se técnico do Sporting no pico da maior crise estrutural de sempre do clube de Alvalade. Ninguém merece.

ONTEM foi a noite de Lima que procurou sem sucesso, mas com muita vontade, o hat-trick frente à Académica. A Briosa deu que fazer a um Benfica com dez novidades em relação ao último jogo no Estoril. Mas voltou a acontecer o costume: o Benfica deu a volta ao jogo quando decidiu correr um bocadinho."

Leonor Pinhão, in A Bola

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