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sexta-feira, 15 de março de 2019

Obrigado, futebol feminino!

"Para quem está em liberdade é difícil imaginar o peso das rotinas diárias de uma prisão que se acumula, numa penosa repetição, com aquele outra da privação e com a vida que passa lá fora indiferente a tudo isto. Mas para quem vive a situação há que aceitar e viver um dia de cada vez com a esperança toda num projecto pessoal de melhoria e reabilitação a pensar na vida que há de vir enquanto nesta se gastam os dias a expiar a culpa, companheira da angústia, sempre presentes.
A privação de liberdade, por compreensível reacção defensiva, eleva ainda mais a importância de todos os espaços informais em que a individualidade de cada uma pode manifestar-se. É o caso dos tempos de recreio nos pátios, das celebrações de datas festivas e das actividades desportivas em que se queimam energias e soltam angústias.
Os resultados desportivos, os casos e as vitórias, como as derrotas, têm o condão de unir a comunidade prisional em torno das suas preferências e de criar espaços de comunicação e interacção positiva entre reclusas, guardas e técnicas do estabelecimento prisional. É terreno neutro sobre o qual se constroem pontes e se estreiam laços de extrema importância para o equilíbrio socioemocinal das reclusas e para o ambiente construtivo e regenerador que, a par do rigor, se pede a um estabelecimento prisional moderno.
Por isso, quando se vê jogar futebol, esquece-se nomeadamente a dureza das realidades vividas e atenua-se o tédio opressor das rotinas. Por isso, quando se joga futebol, esbatem-se tensões e aprofundam-se solidariedades, experimenta-se e promove-se o cultivo da regra, da cooperação, do fair play e da superação individual e grupal.
Mas quando se recebe, duma assentada, a visita de uma equipa A de futebol, para mais jogado no feminino, é uma explosão de alegria e um viver (recordar) sensações que recordam a vida plena em sociedade e acentual a motivação, criando sinergias com o trabalho de reabilitação a que, de forma exemplar, toda a comunidade prisional do EP Tires nos habituou, dos guardas ao corpo técnico e direcção.
Só por isso mereceram a visita, e é bem certo que as nossas jogadoras trouxeram tanto consigo quanto lá deixavam: enriqueceram-se pessoalmente a verbalizaram-no.
Obrigado!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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