"A geografia que se aprende na primeira escola concede-nos, cedo na vida, os primeiros fascínios sobre a dimensão do mundo, sem que, nessa altura, tenhamos sequer a mais remota percepção de todos os lugares a que mais tarde possamos aceder e conhecer. Em criança, apenas nos restava a intangível fantasia de imaginar outros espaços, outros sítios, outros ambientes para além dos que conhecíamos e nos eram familiares...
Com os visionários de 1904, no Benfica também pareceria que viria a ser assim. Então, certamente não lhes terá sido possível fazerem mais do que conjecturar vagamente acerca da evolução que a própria ideia fundacional do restrito grupo de amigos determinados poderia vir revestir, já que as primeiras necessidades de subsistência e da consolidação do agregado que criavam, teriam de ser prioritários. Na humildade dos seus propósitos e estando sobretudo concentrados em fortalecer o convívio no sentido de uma actividade competitiva e ganhadora, muito menos terão percepcionado a dimensão da expansão que esse conceito primordial atingiria, para eles, era mais importante assegurar, por exemplo, a assiduidade às sessões de treino, a conformidade dos equipamentos que usavam para jogar o jogo do foot-ball, ou as contas comuns e os registos para memória futura. Não terão, pois, pensado tanto em geografia...
Cento e quinze anos mais tarde, a realidade é outra. O Grande Benfica, hoje, é o próprio mundo todo. Dos confins de Trás-os-Montes ao último quilómetro de estrada na ilha do Corvo. Da primeira aldeia de Marrocos ao Cabo da Boa Esperança; da praia mais afastada de São Tomé até aos confins da Somália. Do último porto do Alasca à cidade de Ushuaia, no longínquo meridão das Américas. Sempre e onde houver portugueses, lá estará bem vivo o Benfica. E, no entanto, esta (outrora inimaginável) dimensão planetária do Benfica fez-se dos homens que um dia foram crianças a sonhar com os espaços e as forças ainda nunca experimentados. Cresceu consistentemente, isso, sim, com a cuidada transmissão de uma persistente ideia-forte que todos quiseram transportar e desenvolver cada vez mais.
Hoje, o Benfica é de todos os pontos cardeais da estrela-dos-ventos. A sul, no centro e no norte de Portugal: onde joga o Benfica, lá estão os Benfiquistas! Indefectíveis, solidários e sempre presentes e felizes, a jogar com a sua equipa. Como agora vai acontecer, nesta fase tão decisiva de uma época difícil em que todos ardentemente queremos reconquistar o que - apesar de contrariedades e 'alianças' contra a natureza - há de voltar a ser nosso, porque esse é o nosso desígnio permanente.
Ao Benfica, desta vez na região nortenha, para a conquista de autênticos pontos cardeais naquele rectângulo de escassos 37x105 Km, compreendido entre Moreira de Cónegos, Vila da Feira, Braga e Vila do Conde, não vai faltar o supremo sopro do maior grito de todas as gargantas: - 'Benfica, Benfica, Benfica!' Porque, ao contrário dos ouros lados, nós sempre crescemos a ganhar muito naturalmente, sem termos, sequer, de pensar em geografias..."
José Nuno Martins, in O Benfica
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