"A lista de desportos alternativos (futebol freestyle, parkour, free running, frizzbee, kitesurf, ski freestyle, speedriding, etc.) é longa. Alguns deles são puras invenções; outros são derivados de práticas adaptadas aos desejos de um público que não se reconhece na primeira versão (Serres, 2010). Os desportos alternativos têm a particularidade de estar em perpétua evolução e também de provocar o nascimento de novas disciplinas. As técnicas de uma disciplina podem muito bem encontrar uma utilidade ou um aperfeiçoamento noutra. Um praticante de skate pode, por exemplo, encontrar uma segunda carreira no surf ou no snowboard. Eles vão ainda mais longe quando misturam saberes para criar uma actividade original. Duas práticas a priori diferentes podem criar uma terceira. Assim nasceu o speedriding.
A maior parte destes desportos ignoram os programas de treino. A experiência reenvia para si próprio e não uma procura de assistência exterior. Os jovens desportivos alternativos constroem eles mesmos os seus próprios patamares de progressão, adaptados aos seus desejos e os seus meios.
Até aqui, a expressão do desporto passou sempre pela competição. Esta deve ser organizada por uma federação. No entanto, uma parte do jovem público não quer esses desportos oficiais. Porquê? A procura de novidades e a implicação de patrocinadores, que procuram sempre algo novo, encorajaram estes desportos alternativos, procurando um formato mais original. A promoção destas práticas são: liberdade, juventude, natureza e contracultura (Serres, 2010). Os fabricantes de equipamentos e de materiais tiram proveito destes desportos de moda. Os patrocinadores preferem que “os desportistas se libertem e que eles forneçam fotografias e imagens incríveis porque reunimos todas as condições para eles irem até aos seus limites” (Serres, 2010, p. 49). Basta ir à Internet para se descobrir os vídeos e as imagens destes jovens. A sua notoriedade passa mais pela Internet do que pelos jornais ou revistas.
A competição não lhes dá a visibilidade desejada. As imagens, os vídeos e as suas aparições na Internet constituem uma publicidade evidente. No caso do parkour a Internet assumiu um papel importante na difusão das técnicas. Permite completar uma iniciação e de aperfeiçoar um gesto. A música, a montagem e a partilha de performances concorrem para fazer destes desportos uma vertente intercultural, global e federativa, que estabelecem ligações entre estas disciplinas.
Loret, sociólogo especialista destas modalidades desportivas alternativas, explica: “as federações procuram integrar os adeptos dos desportos alternativos, mas sem mudar os serviços desportivos competitivos que correspondem ao seu saber-fazer tradicional. Não é porque o snowboard, a BTT ou o voleibol de praia são integrados no programa olímpico que se pode concluir que o CIO fez a sua revolução cultural. É preciso propor novos serviços desportivos, formatados às normas culturais dos desportos de deslizar, e não as suas normas técnicas” (Loret citado em Serres, 2010, p. 75).
Os jovens preferem estes desportos porque são criativos, inventivos e não são, forçosamente, repetitivos. “Eles não se declaram nem liberais nem libertários, mas sim independentes” (Serres, 2010). Alguns autores denunciam estas práticas fora do quadro das federações como a expressão do individualismo ou do egoísmo, que nasce a partir dos anos 1990 (Bozonnet, 1996).
No seu Discurso do método (1637 [1992], p. 80), Descartes propõe “que nos tornemos mestres e possuidores da natureza”. A atividade desportiva assenta, assim, sobre um pressuposto: ele existe um fundo ? natureza, corpo ? que não pode ficar inexplorado. A natureza surge como um imenso parque de libertação emocional, análogo aos parques de atracções, especialmente colocados à sua disposição. O corpo desportivo não é explorado a curto prazo para produzir um resultado como nas modalidades olímpicas. E eles não se podem confinar nos recintos artificiais, como os estádios ou as piscinas. O universo do desporto não cessa de alargar a sua gama de actividades, de diversificar e declinar a oferta (Lipovetsky, 1992)."
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