"Não me sinto com legitimidade para falar bem ou mal da prestação olímpica de Portugal nestes Jogos do Rio, porque desconheço em profundidade as condições de preparação da maior parte dos atletas, o investimento financeiro que neles foi ou não foi feito, até as reais potencialidades e capacidades de muitos dos nossos olímpicos. Mas, caramba, estamos a falar de uma comitiva de 92 atletas, a maior de sempre, e, como todos sabemos, quantidade nunca foi sinónimo de qualidade ou, neste caso, garantia de bons resultados.
Não tenho dúvidas de que muitos sacrificaram-se e esforçaram-se além do que imaginamos para atingir os mínimos que lhes permitiram correr atrás do sonho, e o sonho, para vários, seria unicamente estarem presentes nuns Jogos. Alguns voltam com recordes pessoais batidos, com resultados que recompensam tudo o que passaram para ali chegar. Porém, penso eu, do ponto de vista do País, do adepto, isso não chega. Os atletas serão os menos culpados, porque só terem talento não chega neste palco, porque na realidade ninguém estará à espera que ali cheguem e vençam o Bolt ou Phelps. Mas, pergunto, estará Portugal a consolidar um verdadeiro e inteligente projecto olímpico? Não seria mais eficaz apostar realmente e em força em alguns atletas e modalidades - naquelas em que teremos mais esperanças, naturalmente - mesmo que isso significasse descuidar outros e outras? E ser ainda mais exigente nos mínimos não seria uma boa ideia para aumentar a exigência e competitividade? É que, pelo menos para mim, diz-me pouco ir aos Jogos Olímpicos com quase uma centena de atletas e ter secreta esperança em menos de mão cheia de medalhas. Espanha apostou forte antes dos Jogos de Barcelona-92 e colheu frutos. É como o dinheiro: sucesso puxa sucesso."
Nélson Feiteirona, in A Bola
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