"Jorge Jesus é um manancial de ideias, conceitos e fórmulas que hão de perdurar muito para lá da sua carreira de treinador que marca este início de século. Graças ao seu carisma 'sui generis', qualquer pensamento em voz alta se transforma em 'punch line' mediática com disseminação pelas redes sociais, a mais das vezes a cargo de pessoas, sobretudo jovens, que escrevem bem pior do que o treinador do Benfica.
A última tirada, para gáudio da malta do Facebook, foi a revelação do nome de código Manel, quando lhe falaram da problemática sucessão de Matic. A franqueza do treinador é um maná para os humoristas e ninguém lhe agradece ser, praticamente, o único agente profissional do futebol português que comunica à margem da formatação discursiva ditada por uma inteligência reinante que continua a pensar que entrevistas honestas prejudicam o rendimento dos jogadores e das equipas.
Quando lhe perguntaram quem seria o novo Matic, o treinador encolheu os ombros e disse o primeiro nome que lhe veio à cabeça, o agora famoso Manel, simplesmente Manel. O que ele queria dizer era que a equipa voltaria ao campo com 11 jogadores e que o trabalho da prospecção, havia de lhe oferecer uma solução. Inconscientemente, Jesus destacava o lado mais elogiado do seu trabalho, que tem consistido em promover jogadores mais ou menos conhecidos para patamares de excelência e correspondentes mais-valias. O último foi o próprio Matic, na verdade, o Manel de Javi Garcia, há um ano e meio.
Neste vaivém de jogadores são muitos os que não chegam as estatuto de titular dos grandes clubes, pressupõe-se que mais por falta de oportunidades do que de qualidade. As promoções no balneário são ditadas pelas vagas que se abrem ao longo da época: há sempre um Manel à espreita da transferência de um titular ou de uma lesão grave.
No caso de Rodrigo, foram os problemas físicos de Cardozo que lhe valeram a oportunidade, meses depois de não ter conseguido aproveitar os problemas disciplinares do paraguaio. Nunca esteve em causa a qualidade deste internacional, avançado espanhol com imenso mercado na Europa ocidental, a ponto de recusar uma venda milionária para a Rússia. O problema dele era a (falta de) confiança do treinador, a (falta de) paciência do criador de Manéis que o deixasse sentir o prazer de uma titularidade sem pressões imediatas:os golos começaram a sair com naturalidade. O Manel de Cardozo estava encontrado."
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