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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Amorim é a sombra de Schmidt


"Rui Costa falou e ficou limitado o espaço para o treinador alemão continuar a esgrimir desculpas, dispondo de plantel de muita qualidade e nada barato

Em jornada de risco elevado o Benfica mostrou que não estava preparado para acolher a inesperada ascensão a líder que o protesto dos polícias lhe proporcionou, enquanto o Sporting expressou toda a sua revolta pela inusitada despromoção a segundo classificado e quem pagou a fatura foi o SC Braga, o melhor cliente de Alvalade no consulado de Rúben Amorim, com três derrotas em três jogos e 15-0 em golos.
Há um ano, em Guimarães, registou-se um empate a zero no Vitória-Benfica, com pálido desempenho da águia explicado pelo desconhecimento do treinador alemão em relação à realidade portuguesa. Anteontem, em noite diluviana, nada que o possa espantar, outro empate devido a uma exibição intermitente em que a novidade maior revelou o espírito inventivo de Schmidt. É uma característica que define os treinadores portugueses, necessitados de fazerem das fraquezas forças, e com excelentes resultados, sublinhe-se.
Quem não dispõe de orçamentos gordos está obrigado ser mais competente se quiser impor-se nos confrontos com os endinheirados, e de notáveis exemplos de sucesso no universo europeu pode gabar-se o futebol luso.
Roger Schmidt resolveu inventar porque lhe apeteceu, mas não precisava porque o porreiro Álvaro Pacheco, que trouxe uma aragem fresca à conversa futebolística, desde os tempos de Vizela, menos tatiqueira e mais divertida, pôs às claras o que tinha em mente e avisou o treinador benfiquista para se preocupar com a «sociedade dos Silvas», na mesma linha de pensamento, aliás, de José Mourinho quando, ainda em Leiria, dizia que os jogos com os clubes grandes eram os mais fáceis de preparar por serem aqueles em que todos os pequenos querem sobressair.
No caso em concreto, e não enxergando o que andou pela cabeça de Schmidt, a verdade é que, sem se dar conta, foi ele quem fez o papel de treinador de equipa pequena com uma trapalhada que correu mal e que não só deu confiança aos jogadores vitorianos como encantou os seus adeptos, por verem uma águia atarantada até ao intervalo.
Depois de ter dito que não era vergonha perder com o Estoril, a propósito da eliminação na meia-final Taça da Liga, domingo teve outro rasgo cortês ao afirmar que um ponto é melhor do que nada, em contraposição a Álvaro Pacheco, que considerou ter perdido dois pontos.
No campeonato 2022/2023, por esta altura, com 21 jornadas realizadas, o Benfica liderava com algum conforto (56 pontos), mais quinze do que o Sporting, que ocupava a quarta posição (41). Nesta altura, porém, coabitam no primeiro lugar (ambos com 52 pontos), embora os leões tenham em falta o jogo com o Famalicão.
A situação mudou, com significativa melhoria leonina (mais 11/14 pontos) e ligeira descida benfiquista (menos quatro) o que explica que Rúben Amorim, depois de ter voltado a massacrar o SC Braga, afirme ser irrelevante quem merece ser campeão à 20.ª jornada, porque «importante é chegar ao fim campeão». Por outro lado, percebe-se menos que Roger Schmidt teime em empurrar os problemas com a barriga, dizendo que ainda há muitos jogos pela frente, e refiro-me a problemas na medida em que há um ano o Benfica não tinha bem um plantel, como se sabe, mas hoje tem e recentemente voltou ao mercado para corrigir o que não correu bem no verão passado.
Rui Costa, em entrevista ao canal do clube, afirmou, nomeadamente, que foi reforçado o investimento em mais talento. Ora, depois do que disse o presidente, creio que ficou muito limitado o espaço para o treinador alemão continuar a esgrimir desculpas inaceitáveis, dispondo de plantel de muita qualidade e, de certeza, nada barato.
Roger Schmidt é inteligente e não chegou ao futebol por estes dias. É também exigente e teimoso. Em Guimarães insistiu no formato com Kokçu e fez mal. No entanto, depois da entrevista de Rui Costa, o seu maior problema passou a ser o treinador do clube rival e vai ser com Rúben Amorim que terá de entender-se daqui em diante. Porque ambos vão defrontar-se em duas mãos na Taça de Portugal e porque ambos perseguem o mesmo objetivo, que é o título de campeão nacional.
Amorim é a sombra que vai perseguir Schmidt, apesar de ter perdido na Luz, na primeira volta. No entanto, desde então, o Sporting desenvolveu-se como equipa, integrou muito bem Gyokeres e Hjulmand, alguém se lembra de Ugarte?, e à força e à velocidade do seu futebol acrescentou a vertente criativa, identificada no talento de Pedro Gonçalves, na explosão de Catamo e na afirmação de Trincão, no lado direito, e na estabilização de Nuno Santos, na esquerda. Com Gyokeres, a estrela polar, formam uma frente ofensiva do melhor que existe, cá e na Europa. A goleada ao SC Braga é apenas o último exemplo."

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