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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A prova rainha

"O que valeu no jogo de sexta-feita, para além do colinho dos adeptos, foi a raça e a vontade, a fé e a alma «até Almeida»

1. Esta jornada teve na passada sexta-feira três jogos antecipados em razão da realização entre terça e quinta-feira próximas dos quartos-de-final da Taça de Portugal. Benfica, Futebol Clube do Porto, Rio Ave, Varzim e Académico de Viseu jogaram na sexta. Os outros apurados, Famalicão, Paços de Ferreira e Canelas 2010, também irão lutar por uma presença emblemática e empolgante nas meias-finais desta prova rainha do futebol português. Mas na sexta-feira Benfica e Futebol Clube do Porto sofreram para ultrapassarem os seus adversários. O Benfica, rematando muito, só suspirou de alívio nos instantes finais com um remate vitorioso do André Almeida. O Desportivo das Aves, bem organizado e sob a liderança de um treinador sabedor e motivador, mostrou qualidade e evidenciou que tem muitos pontos a conquistar. E o Benfica sentiu dificuldades e até algumas debilidades que importa corrigir. O Benfica, este Benfica de Bruno Lage, sabe que cada jogo é uma final. Que cada adversário, e os respectivos jogadores, merecem respeito e cada um deles tem qualidades que os levaram a estar na principal competição do futebol português. Mas o que valeu no jogo de sexta-feira, para além do colinho dos adeptos, foi a raça e a vontade, a fé e a alma «até Almeida»! Não houve nota artística e houve rotação de jogadores tendo em conta estes dois meses bem difíceis - mas muito estimulantes - que vamos viver. Para já, e de novo numa sexta-feira, teremos um Sporting - Benfica em Alvalade. Com a consciência que é mais um derby, mais uma final e mais uma partida que tem de ser encarada com todo o cuidado e com a certeza que o Sporting tem talento valores individuais que são capazes de instantes de sublime talento. Como na sexta-feira aquele extraordinário momento iraniano - de Mohammadi - e os múltiplos instantes do guarda-redes Beunardeau que, respectivamente, «gelou a Luz» e «perturbaram a Catedral». Agora na próxima terça-feira será o Rio Ave. Não sabemos se ainda sob a astuta liderança de Carlos Carvalhal. Também ele seduzido por esta nova descoberta do Brasil impulsionada pela extraordinária façanha de Jorge Jesus. Que mostra que há homens que, pela sua excelência, ajudam, e muito, a engrandecer o nome de Portugal, e também por isso, merecem ser reconhecidos e homenageados pela República!

2. Já escrevi, em outros momentos nesta coluna que no mesmo berço se nasce e se morre. A nossa terra é a nossa luz e a nossa âncora, a nossa referência e a nossa essência, o nosso refúgio e a nossa memória. Viseu, minha cidade natal, terra de Viriato e de D. Duarte, do Bispo Alves Martins e de Almeida Moreira, de Carlos Lopes e de João Félix, entre tantos e tantas outras, vai assistir na noite da próxima quinta-feira aos quartos-de-final da Taça de Portugal. O Académico disputará, no bonito estádio do Fontelo, o acesso às meias-finais com o Canelas. Será um jogo renhido e em que a transmissão televisiva decerto levará todos os intervenientes a momentos de superação e as instantes de talento futebolístico. Permitam-me que a minha memória regresse a 1979, ou seja, há quase quarenta e um anos. Nesse ano o Académico disputava o campeonato da I Divisão - ficou em último lugar! - e chegou aos quartos-de-final da Taça e defrontou o Sporting de Braga que, aliás, eliminara o Benfica nos dezasseis avos por duas bolas a uma. No mesmo Estádio do Fontelo o Braga venceu por dois a zero um Académico que nem tinha Direcção nem treinador! Na verdade o Académico vivia tempos bem complexos, naquilo que um grande jornalista de Viseu - Fernando Abreu - identificou como «completamente ao Deus dará». Mas o que sei é que a massa associativa estava e esteve com a equipa, apoiou-a a estimulou-a até que Chico Gordo aos 66 minutos marcou o segundo golo do Braga e sentenciou o jogo. Recordo, num misto de saudade e de alegria, jogadores do Académico coo Vinagre ou Penteado, Basto ou Ranhão, Pedro Paulo ou Orivaldo, Chico Santos ou Albasini, Vaz ou Teixirinha, Lemos ou Alberto. E jogadores do Sporting de Braga com Conhé ou Quinito, João Cardoso ou Nelinho, José Artur ou Paulo Rocha, entre outros. Agora com Direcção - António Albino, entrou outros, como António Gomes ou José Monteiro - e treinador - Força Rui Borges! - o Académico pode fazer história. Pode chegar, respeitando o seu adversário, às meias-finais desta prova rainha do futebol português. A cidade de Viseu decerto estará com a equipa na próxima quinta-feira. Mesmo que esteja frio - ou chova! - Viseu ambiciona voltar a estar no topo do futebol português. E este interior que resiste e sonha, esta cidade que tem história e tem muita memória, que viu nascer um Rei - D. Duarte - e que quer ver o seu principal clube em mais um determinante degrau da prova rainha do futebol português. Força Académico.

3. O andebol português entrou em grande no Europeu de 2020. Que de forma inédita tem 24 equipas e em que a selecção vencedora conquista o passaporte para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Portugal ganhou, com raça e mérito, no seu primeiro jogo a uma das grandes selecções da modalidade, a França. Que só é tricampeã europeia, penta campeã mundial e bicampeã olímpica! Hoje defronta a Bósnia e se vencer torna-se uma das surpresas nesta primeira fase do Europeu que a Noruega -que defrontaremos no dia 14 - organiza. O que importa é realçar esta vitória, o trabalho da Federação, a liderança de Paulo Pereira e a qualidade indiscutível de jogadores que jogam, na sua grande maioria, nos grandes clubes do andebol português. Mas com jogadores a marcarem presença em grandes marcas da Europa, seja em França ou na Suíça. O andebol português após um período vitorioso entre 1994 e 2006 regressa, com realce, aos grandes palcos da modalidade e tem feito ressaltar e realçar, e bem alto, o nome de Portugal. Tal como aconteceu, ao nível de relevante organização, com o Europeu de 1994 e o Mundial de 2003 que acompanhámos, aliás, bem de perto em razão de responsabilidades desportivas que, no momento, assumíamos. Agora com alguns jogadores naturalizados - como os três nascidos em Cuba - e depois desta estimulante vitória, podemos ser uma das duas selecções apuradas,e, logo, fazer história.

4. Deixo a nota de um livro que vale a pena lei. Sei bem que em língua inglesa mas ajuda a perceber a indústria do futebol de hoje. Aqui fica a capa (The Billionaires Club - the unstoppable rise of football's super-rich owners). O título é sugestivo. O conteúdo bem interessante. E ficamos a saber mais. O que é bem importante nestes tempos e nestas concretas circunstâncias. Ler mais é saber mais!"

Fernando Seara, in A Bola

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