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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Prossegue a sociedade 'Razzi'

"A velocidade e técnica do primeiro e a sagacidade e visão do segundo têm permitido que nos 3 jogos oficiais, 7 dos 12 golos tenham sido desta dupla

1. Vitória difícil, mas merecida, do Benfica SAD, que, na época passada, tirou 5 em 6 pontos possíveis aos campeões nacionais. Com esta vitória, chegou-se à 10.ª vitória seguida fora de casa no campeonato (27 golos marcados e 7 sofridos), num percurso até agora imaculado desde que Bruno Lage passou a liderar a equipa. Um feito tão mais assinalável, quanto, para este percurso imaculado, ganhou em Alvalade, no Dragão, em Guimarães, Braga e Vila do Conde. No sábado e no Jamor, foi um triunfo difícil por várias razões: a primeira, porque o adversário jogou bem dentro das suas naturais possibilidades, tratando-se de uma equipa bem treinada e que sabe o que deve fazer no jogo; a segunda, porque o Benfica desperdiçou algumas boas oportunidades, tendo reduzido o seu grau de eficácia, face aos jogos contra o SCP e Paços de Ferreira; a terceira, porque o relvado de um estádio que se diz nacional é dos mais fracos do nosso campeonato, o que dificulta o andamento da bola que corria aos soluços e que, ainda que prejudicando ambas as equipas, tal foi mais notório no modo como o Benfica joga. Importa ainda sublinhar duas oportunidades flagrantes da equipa azul, ainda que resultantes de infelicidade (Rúben Dias escorregou e Vlachodimos impediu com classe) e de uma oferta de Nuno Tavares, que quase me fez lembrar  modo como o Belenenses SAD marcou os golos que lhe deram o empate do ano passado, na Luz.
Sublinho aqui o jogão que Florentino Luís fez, com uma capacidade física inexcedível e uma ocupação de espaços notável. E, obviamente, a sociedade Rafa & Pizzi (ou, abreviando, Razzi) que continua a ser decisiva em momentos em que é difícil penetrar na área para o golo. A velocidade e técnica do primeiro e a sagacidade e visão do segundo têm permitido que nos 3 jogos oficiais já disputados (12 golos marcados, 0 sofridos), 7 tenham sido desta dupla, a juntar às assistências de um para o outro, ou para outros colegas facturarem. Eis uma brilhante razia da sociedade Razzi. Sobre Rafa Silva, há, no entanto, que registar com preocupações um ponto comum às 3 partidas efectuadas. Não chegam os dedos das mãos para contar os raides com que avançou rumo à baliza adversária que, todavia, foram anulados por faltas duras e perigosas sobre o atleta. Este modo de massacrar o jogador (a que uns dóceis comentadores chamam «faltas tácticas inteligentes»!= deve ser severamente punido sob pena de um claro benefício do jogador infractor que, quase sempre, tem levado uma mera repreensão ou, no limite, uma generosa cartolina amarela.
Continua a sentir-se a falta do lesionado Gabriel, um jogador esclarecido e que tão bem faz a sintese entre defender e atacar. Isto apesar da generosidade de Samaris que, todavia, me parece longe da forma que atingiu na fase final da época transacta.
Uma última nota sobre este jogo e relacionada com o golo anulado ao Benfica (que seria o segundo). A anulação, depois de cinco (!) longos minutos de análise e hesitação, foi devida, segundo a sinalética do árbitro, a um fora de jogo no início da jogada. Não pretendo escrever sobre a decisão tomada, mas, mais uma vez, salientar o aspecto tendencialmente negativo de infracções que só uma tecnologia com a precisão de um relógio suíço é capaz de ultrapassar o que com a mente e sentidos humanos jamais seria possível. No caso deste (não) golo, a festa do futebol deu mais uma vez lugar à retroactividade do (não) festejo, ainda por cima, numa empolgante e melhor jogada da partida.
Quem me estiver agora a ler poderá pensar que assim penso porque foi um golo não validado ao meu clube (imagine-se, todavia, o que poderia ser se o resultado então quase no fim fosse ainda de 0-0...). Se uma acção desta beneficiasse o meu clube, não negarei que até me poderia agradar no redemoinho emocional em que vemos os jogos, mas, racionalmente, teria a mesma opinião que sempre tenho exprimido nesta coluna. Agora com esta nova e infalível tecnologia de linhas a três dimensões, vai haver lances de fora-de-jogo esmiuçados até ao centímetro. Terá sido o caso deste golo  no Jamor. Só não percebo tanto tempo para decidir, pelo que poderei concluir que nem o VAR, nem o árbitro em campo (que foi ver ao monitor, onde esteve algum tempo) tinham a certeza inabalável de ter sido (ou não) offside. Se se entrega à geometria virtual pura a decisão milimétrica destes lances, não compreendo as dúvidas ou hesitações: ou está ou não está fora-de-jogo, ponto final. Pelo que, a contrario sensu, posso concluir que neste tipo de infracções ainda há espaço para a discricionariedade (ou subjectividade). Ou seja, afinal com tão sublime e infalível tecnologia, ainda não é sempre pão, pão, queijo, queijo... Depende dos gostos. Por outras palavras, se o árbitro tivesse decidido validar o golo, os argumentos visuais teriam sido absolutamente os mesmos. Há (havia?) uma regra de sensatez: a de, em caso de dúvida, nas situações potenciais de fora-de-jogo, beneficiar quem ataca. Ora, parece-me que tal prática desapareceu com o primado totalitarista desta tecnologia.
O VAR tão afoito neste lance estaria, porém, a dormir quando de um penálti claro sobre o inevitável Rafa. Eis outra sociedade a seguir com atenção: Veríssimo & Xistra ou Xistra & Veríssimo...

2. Aproximam-se os sorteios por potes. Uma lotaria de potes, portanto. Forçando um neologismo de união entre estes duas palavras, uma verdadeira potaria. Para uns - os insaciáveis donos disto tudo - pote quer dizer compoteira, para outros - os apurados no pote 4 para compor o ramalhete - não passará de uma peniqueira. Por força da eliminação supreendente do FC Porto face a um quase ignoto clube russo de nome Futbolniy Klub Krasnador da cidade com o mesmo nome (antes chamada Ekaterinodar), num jogo com direito a transmissão debutante pelo Porto Canal (mas não visto na Rússia), o Benfica  foi promovido do pote 3 para o pote 2. Coisa de somenos, pois o que mais interessa é o sorteio dos potes e não tanto os potes do sorteio.
Com o Porto e Sporting assegurados na Liga Europa, bom será que Sp. Braga e Vitória de Guimarães alcancem também a fase de grupos, o que levaria - ao que creio - à maior representação portuguesa nesta competição e poderia aumentar as possibilidades de melhoria do ranking, pois que vitória na Liga Europa vale, para este efeito, tanto como vitória na Champions (outra música é a do dinheiro encaixado...).
Entrementes, havia sido anunciada, com algumas circunstância, a disposição da direcção da Liga para evitar, tanto quanto possível, a anomalia de haver jogos à segunda-feira, que em nada beneficiam a competição nacional, afastam adeptos e promovem estádios às moscas. Se tivermos em atenção o que aconteceu nas duas primeiras jornadas, custa a compreender que não se tenha concretizado a boa intenção anunciada pela Liga, pois houve jogos neste dia da semana, sem que houvesse motivos imperiosos para tal. Se todas as quatro equipas portuguesas atingirem a fase de grupos, não sei como vai ser, pois os jogos da Liga Europa são sempre à quinta-feira. Será que, em determinadas jornadas, vamos ter a segunda-feira como o dia quase principal dessas rondas?

3. Lá fora, a coisa promete. Ou será sol de pouca dura? Registe-se a circunstância de, nos campeonatos inglês, alemão, espanhol e francês, o campeão em título já ter perdido jogos ou pontos. Na Itália, ainda estão nos preparativos. O Barcelona estreou-se como o Porto: perdendo fora de casa não em Barcelos, mas em Bilbau. O Chelsea, agora treinador pelo ex-grande jogador F. Lampard, baqueou estrondosamente diante do Man. United. O Man. City empatou em casa diante do sortudo Tottenham, tal como o heptacampeão Bayern de Munique que se viu em palpos de aranha para empatar no seu terreno diante do Hertha de Berlin. Em França, o actual e virtual campeão PSG já perdeu na primeira deslocação e esta liga tem tido um início desastroso para os treinadores portugueses (Leonardo Jardim, Paulo Sousa e André Villas Boas), que somaram 2 pontos em 18 possíveis.

Contraluz
- Memória: Morreu um grande ciclista dos tempos áureos deste desporto: o italiano Felice Gimondi. Foi um dos poucos corredores vencedor do Tour, da Vuelta e do Giro de Itália. Contemporâneo e amigo do maior ciclista de todos os tempos, Eddy Merckx, teve com eles duelos empolgantes, que transporto na minha memória. Ao tomar conhecimento da morte do italiano, o campeoníssimo belga, em lágrimas, disse que «diante do seu desaparecimento sinto que parte da minha vida também acabou para sempre».
- Citação: «Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola»
(Nelson Rodrigues, escritor brasileiro, 1912-1980)"

Bagão Félix, in O Benfica

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