"Óptima conversa a de Rui Unas, um dos mais versáteis comunicadores portugueses, com Rúben Amorim, que recentemente anunciou o final da carreira, aos 32 anos. Trata-se de um programa apenas disponível na internet (chama-se maluco beleza). Um espaço menos convencional para quem tem mais de 40 ou 50 anos, normalíssimo para quem tem menos de 20. Disse o ex-jogador do Benfica que os futebolistas têm pouca liberdade de expressão. «Temos de dizer sempre aquela lengalenga. Muitas vezes temos uma opinião diferente, mas é preferível dizer sempre o mesmo para não prejudicar o clube», justificou o antigo internacional português. E disse mais: «É por isso que as pessoas pensam que os futebolistas são limitados».
Este é um exemplo clássico com que me tenho confrontado na carreira: jogadores que se transformam em bons falantes após pendurar as chuteiras ou quando saem do país. As pessoas dirão: os futebolistas são pagos para jogar, não para falar. A essas respondo sempre: no mundo em que vivemos, diminuir um artista a uma única capacidade performativa é um crime. Para não falar dos benefícios comerciais que os clubes pretendem retirar - e sobre isto nunca me esquecerei uma conversa que já tem uns bons 10 anos com o psicólogo do Real Madrid, responsável pelo media traning dos jogadores da formação merengue, onde me disse o seguinte: «As pessoas gostam dos jogadores pelo que jogam mas também pelo que pensam».
Pior: o espaço deles foi sendo ocupado por dirigentes, directores e paineleiros. E sim, a culpa também é dos jornais, das rádios, das televisões e dos media digitais por dar tempo de antena a gente que quer voltar à era medieval. «Começamos a perder a noção do que é realmente importante no futebol», afirmou o Rúben. Pena só poder dizê-lo agora."
Fernando Urbano, in A Bola
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