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domingo, 3 de abril de 2016

Da Luz a Munique

"Perante a tribalização em que vive o futebol português, traduzida numa renovada aliança táctica, o Benfica está cada vez mais unido.

1. Na passada sexta-feira o Benfica venceu claramente o Sporting de Braga e pressiona os seus directos adversários para os dois jogos que, com suficiente descanso, irão realizar amanhã no Dragão e no Restelo. Acredito, como se percebe da sugestiva concordância de comentários, que dragões e leões esperavam bastante mais da equipa liderada, e bem, por Paulo Fonseca. O que sabemos é que cada jogo do Benfica é, tem de ser, uma verdadeira final. E que cada pré-jogo significa uma campanha de condicionamento que envolve cada uma das equipas de arbitragem envolvidas. Seja na identificação dos jogadores aos quais não deve ser exibido o cartão amarelo - ou seja, que estão em risco de ficarem impedidos de jogarem... contra o Benfica - seja na insistente recordação de diferentes momentos de jogo ou na constatação de possíveis erros de arbitragem ou, até, como infelizmente acontece em relação a Renato Sanches, na desconfiança da idade do jogador. E insinuando na prática de crime por parte do Pai deste talento do futebol português. E no pós-jogo são comentários em que sente a dor e o preconceito, a privação do ambicionado e também o reconhecimento da tribalização em que, em crescendo, vive o futebol português. Perante esta tribalização, traduzida numa renovada aliança táctica, o Benfica está cada vez mais unido. Nós, os adeptos, vamos levar a equipa ao colo. E cada vez temos mais vontade de lhe proporcionar todo o colinho possível. Por mim também tudo farei para ir a Coimbra e a Vila do Conde. E lá estarei no Estádio da Luz em todos os jogos que faltam para a conquista, sempre sofrida, da nossa Liga. E logo de um singular tri! Na certeza de que as palavras sábias e lúcidas de Jorge Luís Borges estão sempre presentes: «Eu não quero explicar o passado nem adivinhar o futuro. O que eu quero, mesmo, é entender o presente»! E como o entendo...
2. Entender o presente é assumir que perante as diferentes dificuldades internas leões e dragões pretendem a unidade - quase que unanimismo - na proclamação sistemática do inimigo externo. E este é o Benfica. Parece que pouco se importam, ao contrário do por vezes proclamado e assumido, com a indústria do futebol profissional em Portugal. Bem percebemos que o futebol, nestes tempos e em certas circunstâncias, seja invadido por lógicas pessoais e grupais, relações locais e regionais, coligações sentidas e pressentidas. O que é perturbante é que as delimitadas e normativas responsabilidades, em alguns casos, continuem a ser difusas, as sanções aplicadas irrelevantes, insignificantes e, logo, não perturbantes e as omissões inequívocas claramente evidentes. Perante esta tribalização a instituição Benfica deve remeter-se a um perturbante silêncio. Na linha do escrito por Erik Geijer: «O que se faz de grande faz-se em silêncio». Já que, como nos ensina o imortal Padre António Vieira, «a tristeza é um mal e enfermidade universal». E esta tristeza percorre, desde sexta-feira à noite, muitas consciências em Portugal.
3. Na sexta-feira comemorei mais um aniversário. Uma das prendas proporcionou-me o meu Benfica. E partilhei no Estádio da Luz o meu aniversário com o Jonas. Que também nesse dia celebrou mais um aniversário. O que sei é que nasci num Domingo de Páscoa. E o que digo ao Jonas é que daqui a dois anos voltamos a celebrar o nosso aniversário no Domingo de Páscoa. Por mim não me importava que ele continuasse a marcar golos, a fazer assistências fantásticas de costas como a que proporcionou o terceiro golo do Benfica e o fantástico remate de Pizzi, e logo, a envergar com orgulho a camisola do Benfica. E também a amarela da selecção brasileira. E com a esperança de ter uma camisola com a sua assinatura para oferecer ao meu querido neto Alexandre Maria que na passada sexta-feira exultou com os golos, com o singular ambiente e com o emblemático voo da águia Vitória. E que sorriu, com uma alegria imensa, com a fotografia que, no final do encontro, tirou com a águia que proporciona, antes de cada jogo na Luz, momentos de fervor clubístico que são únicos no Mundo do futebol contemporâneo.
4. Na próxima terça-feira o Benfica defrontará uma das grandes equipas do futebol do momento. Num estádio com história. Com um ambiente de fervor clubístico. Com um treinador carismático. Com jogadores extraordinários. A diferença de orçamentos é significativa. Mas acredito que cada jogador do Benfica, ao pisar aquele relvado, não deixará de se superar, de combinar vontade com sagacidade, de assumir o sonho com confiança, de buscar momentos de felicidade e de ultrapassar os instantes de dificuldade que necessariamente irão surgir. Com a consciência que Rui Vitória também sabe, e muito, da arte do jogo e do treino. Como nos tem mostrado claramente. E quase todos os jogadores do Benfica, dos mais jovens aos mais experientes, também já envergam, com orgulho, as principais camisolas de diferentes e relevantes selecções nacionais. E permitam-me que enalteça, entre todos, o Renato Sanches, que, mesmo perante a pressão a que tem sido sujeito, mostrou uma vez mais na passada sexta-feira o seu imenso talento. Por mim lá estarei uma vez mais a acompanhar o Benfica. Tal como o fiz em 1976. Há quarenta anos. Então com vinte anos. Com cabelo e com bigode. Agora bem careca, já com óculos e sem bigode. E com a convicção que, nesta época, o nosso objectivo principal é a nossa Liga. Mas com a certeza que o Benfica se afirmou e se projectou com as suas presenças - e conquistas - europeias. Mas sempre com a arte de ser grande em Portugal!
5. No Estádio da Luz houve um momento singular na passada sexta-feira. O respeito absoluto do minuto de silêncio ao Senhor Fernando Mendes é de uma grandeza singular. Que se deveria repetir em outros instantes e em todos os palcos. De gratidão a um grande Senhor do futebol português. De reconhecimento que cada um de nós é um ser que não se repete. Para além do clube do nosso coração. Fica aqui o registo. Que vai da Luz a Munique!"

Fernando Seara, in A Bola

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