"A goleada, a festa nas bancadas, o regresso de um grande Saviola, e a liderança (ainda que repartida) no Campeonato, trouxeram-nos, no passado fim-de-semana, a memória da saga de 2009/2010. Sentiu-se esse doce aroma no Estádio da Luz, porventura pela primeira vez desde que, numa certa tarde de Primavera, dois golos de Óscar Cardozo derrotaram o Rio Ave, e levaram para a rua milhões de pessoas em todo o mundo, numa inolvidável manifestação de fervor Benfiquista.
É cedo para tirar conclusões acerca do que poderá acontecer durante uma temporada que ainda está longe de chegar a meio. E é sempre inoportuno embandeirar em arco, até porque a concorrência mais directa não dá grandes sinais de cedência (FC Porto continua em primeiro lugar, e o Sporting vem a fazer uma recuperação notável). Há que dizer também, em nome da verdade, que o Paços de Ferreira surgiu na Luz bastante enfraquecido pelas múltiplas ausências de jogadores lesionados e castigados, não sendo, de todo, a equipa que na última temporada (com David Simão, Nelson Oliveira, Pizzi entre outros) triunfou em Alvalade e em Braga, e vendeu cara a derrota na final da Taça da Liga.
Um Benfica à medida do fato de campeão
Mas se olharmos para o que esta época já nos deu, vemos um Benfica imbatível (treze jogos oficiais, zero derrotas), que está na frente da Liga, que ultrapassou com distinção duas difíceis pré-eliminatórias europeias, que entrou na Fase de Grupos da Champions League impondo um empate ao todo poderoso Manchester United, que ganhou na Roménia, e cujo registo global só um triste empate em Barcelos impediu de se cruzar com a perfeição. Quase sem nos darmos conta, temos um Benfica à medida do fato de campeão, que há dois anos tão bem lhe assentou.
A última temporada trouxe, entretanto, traumas que custaram a cicatrizar. Não foi - como aqui disse em várias ocasiões, e ao contrário da imagem que prevaleceu - uma época totalmente desastrosa (ainda assim, 2.º lugar, meias-finais europeias, Taça da Liga, 18 vitórias consecutivas), mas foi uma época marcada por derrotas particularmente dolorosas, mais até pelas circunstâncias que as rodearam do que propriamente pelos factos em si. Houve azar, houve obstáculos à preparação e visível mão da arbitragem, que nos ceifou permaturamente as aspirações no Campeonato, nos retirou da Taça de Portugal (com um esquecido golo de Hulk em fora-de-jogo), e até na Liga Europa se fez sentir - pois a malfadada jornada de Braga poderia ter tido outro desfecho se o golo solitário da partida (em lance onde Cardozo é claramente impedido de chegar à bola por um adversário) tivesse sido invalidado, como se impunha.
O que ficou foram os resultados, e a memória do sofrimento e da angústia. E isso levou a que muitos benfiquistas olhassem para o regresso às competições com o pé da precaução bem atrás do olhar da confiança. A última semana terá feito render mais alguns cépticos, e pouco a pouco a onda vermelha vai tornando a sua mais viva cor. O Benfica vai ganhando, evidência solidez, e é neste momento, pelo menos, tão favorito como o FC Porto à conquista do título, o que representa generalizadas quando se iniciou a pré-temporada.
As encomendas continuam...
Um resultado que pareceu de encomenda (pelo menos, pareceu), permitiu ao conjunto portista manter, em Coimbra, ante uma equipa orientada por Pedro Emanuel, a liderança aritmética da prova, e um suplemento anímico de que andava urgentemente a necessitar. Nem outra coisa seria de esperar de uma partida onde, acontecesse o que acontecesse, se sentia que alguma coisa haveria de guiar o FC Porto à vitória (e os golos de que necessitava para se manter à nossa frente, sabendo-se o quanto esse simbolismo pesa por aquelas bandas). A estrutura é poderosa, e não brinca em serviço, sobretudo quando as circunstâncias são difíceis. E três jogos consecutivos sem ganhar já estavam a fazer mossa.
O que o Benfica mostrou (e tem mostrado) deixa, no entanto, muitas esperanças no ar. A equipa de Jesus está cada vez mais forte, e não vai - certamente - perder muitos pontos. O leque de opções é vasto, e a flexibilidade táctica parece até mais substancial do que a do ano do último título. Olhando para o perfil deste plantel, e para a consistência que a equipa tem revelado jogo após jogo, temos todos os motivos para confiar numa época de grandes sucessos.
Terá sido a noite de sábado um sinal disso mesmo? Acreditemos que sim."
Luís Fialho, in O Benfica
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