"Cresci a ouvir pela rádio relatos vividos dos campos onde o Benfica renovava vitórias com vozes corridas a suster a respiração voando de jogador em jogador como se fossem eles próprios a bola em movimento. Aquele falar contínuo que se propagava à distância transportava os ouvintes para um registo de visualização imaginada e de expectativa permanente que provocava explosões de alegria ou desagrado espalhando o ambiente do estádio pelos bairros e aldeias e transformando o país num imenso estádio. Habituei-me, habituámo-nos todos, a palavras como 'offside', 'penálti', 'livre' e 'goolo', muito 'goolo' que ainda perdura na melhor tradição radialista. Mas também à palavra 'falta', 'cartão', amarelo ou vermelho, sem mais cores e muito menos branco.
Só muito mais tarde se generalizou entre o povo um outro estrangeirismo, cada vez mais falado: 'fair play'. É sinal dos tempos e da sua evolução, mas o fair play esteve sempre lá porque está na base da competição desportiva, seguindo um ideal generalizado entre os desportistas de que o importante é que 'eu vença' e não tanto que 'o outro perca'. Claro que no jogo haverá sempre vencedores e vencidos, empates excluídos, mas a arte e a alegria com que vemos os jogadores entregarem-se em campo resultam de uma vivência lúdica e sadia que tem o condão de produzir bem-estar a partir de níveis inimagináveis de esforço. Por isso, de cada vez que um atleta celebra a vitória, pensa no troféu e em todas as adversidades que ultrapassou, mas pensa também que foi capaz de o fazer, superando as suas debilidades nos momentos mais difíceis. E isso, em conjunto, é o prémio e o sabor doce da vitória. Os atletas regem-se por valores! Isso é intrínseco ao desporto, a melhoria contínua e a superação individual são o seu foco porque sabem que é dai que vem o poder do confronto e a capacidade de vencer. Essa capacidade de vencer que caracteriza os campeões e que os leva a ir além de si próprios, entregando resultado para lá dos limites. Apenas a mediana pode viver no desporto sem valores e poderá até vencer algumas vezes, mas nunca repetirá por mais de um século os festejos da vitória, galvanizando multidões e tornando-se sinónimo de vencer.
É por estas razões que valorizamos tanto a ética no desporto e que participamos em projectos como a Bandeira da Ética desportiva ou o Cartão Branco. Este último, a par com o Prémio Atitude, é já uma instituição nos projectos da Fundação Benfica, e sabemos bem como são valorizados pelo público e pelos atletas.
Da formação à prática desportiva, dos relvados para a bancada, os valores do desporto serão sempre a cada vez mais celebrados a par com as vitórias. Já é assim, e chegará certamente o tempo em que, no campo, o cartão branco será mostrado aos atletas que se destaquem pela atitude, pelo fair play e até pelo altruísmo como por vezes acontece, acompanhando as palmas do público nas bancadas e trazendo a atitude para a primeira linha do reconhecimento, a par com o sucesso e sublinhado a insubstituível vitória!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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