"No dia 20 de Junho de 2004, Lisboa fervia. Nós, na selecção nacional, vivíamos numa espécie de mundo dentro do mundo.
No dia 20 de Junho de 2004, Lisboa fervia. Nós, na selecção nacional, vivíamos numa espécie de mundo dentro do mundo. Uma bolha entre Alcochete e os estádios, a tranquilidade sem gente à nossa volta e a gente nas ruas, na festa incrível dos dias alegres do país triste. As coisas tinham começado mal, mas à saída do jogo da Grécia, no Porto, a mágoa que vivíamos da derrota inaugural foi lavada pelas pessoas que se empilhavam nos passeios aplaudindo o autocarro que tomou o caminho do aeroporto.
No regresso vínhamos todos, como escreveu um dia Vasco Lourenço. Todos e mais inteiros. Antes de toda aquela euforia que tomou conta dos adeptos de Portugal existia uma nuvem negra de dúvidas sobre a selecção. Lá dentro, a amizade. Uma amizade tão grande, tão alargada que ainda hoje, 14 anos depois, nos encontramos uns com os outros, procuramos saber uns dos outros, dedicamos tempo uns aos outros.
Aquilo que vivemos durante o Euro 2004 foi único! Nas vitórias e nas derrotas. Ganhámos todos; perdemos todos.
Contra a Espanha, nos minutos finais, no banco e em redor dele, ninguém conseguia ficar sentado. Uma excitação quase infantil de premonição. Uma confusão de notícias contraditórias vindas de Faro, onde a Grécia defrontava a Rússia: que a vitória portuguesa por 1-0 serviria para nós e para os espanhóis. Não, não servia. E nós, todos nós, aguentámos firme como se estivéssemos de mãos dadas. E estávamos mesmo. Continuamos de mãos dadas: no futebol e na vida."
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