"A última jornada da Liga abriu um leque de temas com algum potencial para esta crónica, desde logo as escorregadelas do FC Porto e do Sporting, até porque é sempre mais fácil rasgar do que costurar. Seria uma boa oportunidade para questionar por que razão Lopetegui continua a repetir erros que no passado custaram pontos e ajudaram a azedar ainda mais a sua relação com os adeptos portistas. Ninguém iria contestar, por exemplo, um artigo que questionasse a dificuldade que o FC Porto continua a acusar em campo alheio (onde sofre golos há cinco jogos consecutivos), mesmo frente a adversários anémicos, como é o caso do Moreirense. E a facilidade com que deixa escapar vitórias nos instantes finais, como se viu em Kiev e em Moreira de Cónegos. Seria também estimulante tentar perceber aqueles que preferiram contestar o basco por este ter deixado o FC Porto desequilibrado no último quarto de hora, quando decidiu arriscar um esquema com dois pontas-de-lança. E boa parte do estímulo resulta da circunstância de boa parte desses perscrutadores serem exactamente os mesmos que há uma semana disseram cobras e lagartos do basco por ele ter cometido a heresia de substituir Aboubakar por Osvaldo, em vez de, como exigiam, os deixar juntos em campo. Mas não seria mais lógico interpelar Lopetegui sobre as razões do ostracismo a que está a ser votado Bueno? O avançado espanhol fartou-se de marcar golos no Rayo Vallecano e foi convencido por Lopetegui a sair a custo zero para o FC Porto precisamente por faltar no Dragão alguém capaz de protagonizar o tal Plano B em que a equipa portista passava a ter mais tracção à frente sem, com isso, perder fiabilidade lá atrás. Adrián López falhou, por culpa própria, aquele objectivo. Mas, ao contrário do que vem acontecendo com Bueno, teve oportunidades suficientes para se confirmar como o maior fiasco financeiro de que há memória no FC Porto. Dir-me-ão que a possibilidade de Lopetegui responder a esta e a outras questões embaraçosas é quase nula. É verdade. O espanhol não dá entrevistas e usa as conferências de imprensa quase só para valorizar os adversários, como se todos eles fossem réplicas do gigante Adamastor. Responde sem responder à maioria das perguntas, incapaz de perceber que tanta agressividade e rabugice resultam num efeito 'boomerang' que só o prejudica. Não aceitar discutir futebol impede, por exemplo, que se descubra que percebe bem mais da poda do que por aí se insinua.
No futebol, já se sabe, a coerência vale menos do que uma batata e os exemplos disso mais recentes também seriam suficientes para uma crónica suculenta. Numa semana, Jorge Jesus começou por passar (com subtileza, é certo) a responsabilidade do afastamento de Carrillo para o presidente, logo depois já estava a 100 por cento com a decisão presidencial e, no dia seguinte, o afastamento do peruano, ainda nas palavras de Jesus, já se transformara numa prova de liderança do treinador. Mas se o sujeito e o predicado nem sempre saem de mãos dadas da boca do treinador do Sporting, ninguém lhe poderá nunca negar a forma arguta como comunica. E, logo após final do empate no Bessa (e ainda antes de ter alinhado na estapafúrdia campanha contra a arbitragem, como se um erro arbitral não tivesse deixado o Sporting em superioridade numérica durante uma hora no jogo anterior), lá deixou escapar ter faltado "criatividade individual" ao Sporting. Esperto, recusou todas as perguntas seguintes sobre Carrillo, mas a mensagem subliminar já tinha sido passada... Não teve assim que explicar porque é que o Sporting, depois de uma fase inicial em que surpreendeu pela forma rápida como assimilou a nova ideia de jogo e se tornou numa equipa minimamente competente, parece agora ter estagnado e até retrocedido no processo. Fica assim aqui provado que não teria faltado matéria para transformar este texto numa crónica de escárnio e maldizer. Dirão os leitores menos dados ao deboche que foi precisamente isso que aqui acabou por acontecer. Admito que sim e até faço mea culpa, mas na certeza de que, também no futebol, os que se acham merecedores de elogios deviam ser os que melhor deviam aprender a suportar as censuras..."
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