"Na derrota, a reacção colectiva das plateias é universal, prova de que o adepto não vai ao estádio para saber a idade e a origem dos jogadores mas para ver a sua equipa jogar bem e vencer. Em clubes de topo a pressão é insustentável sobre rapazes que, não raras vezes, interpretam como oportunidade momentos nos quais são lançados às feras sem a mínima preparação. Nessa altura, e se a derrota bate à porta, de nada lhes serve juventude, compreensão e até carinho por toda uma vida no clube. Nos últimos seis anos, o Benfica alicerçou a imagem vitoriosa numa verdade indiscutível: a melhor equipa não é a que tem mais elementos nascidos e criados em casa desde o berço; a melhor equipa é a que tem melhores jogadores e ganha mais vezes. Confirmando a mudança de ciclo na Luz, Gonçalo Guedes, um dos expoentes máximos das camadas jovens dos últimos tempos, garantiu lugar no onze do bicampeão nacional. E já mostrou que não é um fenómeno esporádico no grande filme benfiquista do futuro.
Prova de um espírito aberto, disponível e focado, GG foi escrupuloso no cumprimento das funções que lhe foram definidas por Rui Vitória. Com essa atitude responsável e madura garantiu a sobrevivência mas não atingiu o deslumbramento; defendeu a presença na obra cinematográfica do bicampeão nacional mas nunca se aproximou do protagonismo que pisca o olho aos Oscares; pisando terrenos que requerem criatividade para estabelecer a diferença no espaço ofensivo, ainda só tinha revelado inteligência táctica, boa assimilação das ordens do treinador, paixão pelo jogo e intenção colectiva em cada decisão. É um jogador rápido, articulado e com excelentes argumentos técnicos, capaz de exercer junto às linhas mas também no corredor central; dotado para o jogo combinado pode também explodir em aventuras individuais; caracterizado pela tremenda margem de progressão que tem para explorar, assenta desde já em pressupostos de habilidade, potência e visão à altura dos melhores. Tem quase tudo para vir a ser um craque.
Aos 18 anos, é notável como se predispôs. desde o primeiro minuto, a oferecer todas as contribuições para alimentar o senso comum, ele que está vocacionado para a participação extraordinária e desequilibradora. O jogo com o P. Ferreira gerou o primeiro grande papel da carreira de GG, um prodígio que, preparado para criar, lapidar e oferecer diamantes à equipa, ainda só tinha contribuído com índices elevados de trabalho para olear o funcionamento da máquina. Depois de o vermos tratar por tu artistas como Jonas e Gaitán e contribuir com potencial ilimitado para a vitória do Benfica (um golo e uma assistência), é mais fácil aceitar a opinião de quem lhe atribui como características predominantes o luxo da precisão, a eficácia das invenções, a elegância de um estilo acutilante e os alicerces globais do talento adolescente que ainda precisa de crescer biológica, física e mentalmente para atingir o máximo do que tem para oferecer.
Não é caso para converter a feliz etapa de afirmação ao mais alto nível numa celebração de grande mediatismo, glorificando os efeitos hipnotizadores de um jovem que se encheu de brios, desafiou um grupo de homens feitos (companheiros e adversários) e vergou-os à força da sua qualidade. Muitos ao longo dos anos fizeram o mesmo e ficaram pelo caminho, porque os elogios chegaram antes de tempo, a impaciência generalizada pela sua confirmação conduziu-os ao esquecimento e eles não tiveram força para evitar o descalabro. GG não pode desviar-se da trajectória definida. O percurso efectuado em menino, recuperado agora com exuberância, é suficientemente sustentado para confirmar a excelência de um enorme futebolista. Sim, tem ainda muitos fracassos para superar. Esperemos só que não interfiram com o destino final de quem está talhado para a glória."
Como bem escreve Rui Dias! É daqueles que vale a compra de um jornal.
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