"A tróica ainda dita ordens. Portugal perdeu por 0-4 contra os alemães. Espanha, 1-5 frente aos holandeses. Grécia, 0-3 diante de um país não europeu, mas membro do FMI. A Irlanda, essa nem lá foi. Em conjunto: 1-12!
Contra a prussiana mannschaft foi um pesadelo escusado, um Patrício desastroso, um Pepe malicioso, um Coentrão lesionado, uns pontas-de-lança inexistentes, um Meireles mete-medo, um Ronaldo que não foi São Salvador. Quando tínhamos bola não tínhamos espaço, quando tínhamos espaço não tínhamos bola e quando não tínhamos ambos, tínhamos alemães pela frente.
Depois do desastre há que reabilitar a equipa ou para usar a costumeira frase «há que levantar a cabeça» (agora que o Pepe não a vai levantar=. Com a consciência de que a nossa Selecção, à parte Ronaldo, é tão-só mediana.
Para isso conviria reduzir o nível de histeria comunicacional que nos transporta para o elogio da facilidade, da futilidade, da vulgaridade, da ligeireza, da efemeridade. Vemo-nos confrontados, até à exaustão e por todo o lado, com o primado da adjectivação prolixa que se espalha virulentamente quando vamos a uma fase final. Numa bolsa de valores, os adjectivos patrioticamente usados estariam pela rua da amargura, tal o dislate da oferta. Talentoso, genial, universal, mágico, estonteante, fabuloso, fenomenal e muitos outros que, de tanto abuso, perderam o seu valor semântico.
Mas ainda estamos a tempo de evitar uma saída... limpa. Se formos substantivos e não adjectivos, temos condições para ultrapassar os EUA e o Gana. Com a calculadora na mão, é claro."
Bagão Félix, in A Bola
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