"1. «A derrota é uma doença que só a vitória cura», escreveu um dia Mário Filho, o grande jornalista brasileiro que deu nome ao Maracanã. Sabem os emotivos, os sanguíneos, mais do que todos os outros, quanto tal frase é verdadeira. A derrota mina a confiança, trai os sentimentos, acarreta o desespero. Provoca uma profunda melancolia, que não sai de dentro, não sai, não sai...
Há vários anos que os adeptos do Benfica vivem nesta encruzilhada que bifurca entre o carreiro da depressão e a estrada da euforia. Ou pior: a estrada larga da euforia tem teimosamente desaguado no carreiro estreito da depressão. Para estes estados de alma, sabem-no os racionais, nunca há indicações a seguir. Cada um (ou todos em conjunto) terá de escolher o seu próprio caminho. Às vezes, encontrar motivos de alegria na tristeza é o primeiro passo para deixar de encontrar motivos de tristeza na alegria. Sob o risco de estarem sobre Lisboa dias bonitos e não lhes servirem para nada...
2. Cinismo é uma palavra que, com o tempo, perdeu a sua verdade. De gente de desapego material, os cínicos passaram a ser pessoas sem vergonha, indiferentes ao sofrimento alheio. Uma corrente de filósofos defende que o étimo da palavra vem de kynós, o termo grego para cão. Alguns dos cínicos dos tempos de hoje fazem com que muitos de nós abracem sem escrúpulos esta versão. Quando o teu pior inimigo se aproveita da tua desgraça para gritar aos quatros ventos que deseja a tua imediata felicidade, está certamente a ser cínico. Ou cão, se quiser-mos. Também aqui cabe a cada um escolher o seu caminho. Há muito, muito tempo, que escolhi o meu."
Afonso de Melo, in O Benfica
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