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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A guarda pretoriana


"O que aconteceu na Assembleia Geral abortada do FC Porto só pode ser surpresa para quem tem andado desatento ao longo das últimas quatro décadas, onde o conceito de guarda pretoriana, levado sempre que necessário à prática, no clube, foi constante, mudando apenas, por questões geracionais, os lugares-tenentes

As eleições de abril no FC Porto, onde existe a possibilidade real de Pinto da Costa ser derrotado - e é disso que se trata, nada mais -, colocaram o clube, primeiro em estado de alerta, depois em estado de sítio, e agora em estado de emergência. E, provavelmente, quem mais quer a continuidade de Pinto da Costa nem é o próprio, que ocupa a cadeira do poder no dragão desde 1982, mas sim quem gravita, com estatuto de parasita, em torno dele, uma fauna plural, que abrange áreas diversas da vida portista, e que sabe que sem nova vitória do atual presidente a torneira das benesses será fechada.
Tais criaturas não lutam por ideais desportivos, nem sequer, stricu sensu, pelo FC Porto, apenas pretendem garantir que a galinha dos ovos de ouro irá continuar do seu lado da vedação. O que aconteceu na Assembleia Geral abortada do FC Porto só pode ser surpresa para quem tem andado desatento ao longo das últimas quatro décadas, onde o conceito de guarda pretoriana, levado sempre que necessário à prática, no clube, foi constante, mudando apenas, por questões geracionais, os lugares-tenentes.
E as vítimas desta intimidação com mais de 40 anos, que começaram por ser os jornalistas, depois os adeptos dos outros clubes, e finalmente toda e qualquer voz, mesmo vinda de portistas insuspeitos (de quem vou respeitar a privacidade e a memória…), que se erguesse contra a política do regime, uns antes, muito antes, e outros agora, só agora, foram testemunhas de uma realidade que nunca fez sentido, por opressiva, intimidatória e profundamente anticivilizacional.
Porém, há sempre um tempo de dizer «basta», e esse parece ter chegado ao FC Porto, onde procedimentos como os que aconteceram na última segunda-feira deixaram de ser tolerados.
Na próxima semana, em condições de normalidade - espera-se - os portistas serão chamados a pronunciar-se sobre matérias candentes para a vida do clube, naquilo que poderá ser um primeiro passo que desemboque em eleições realmente livres e muito participadas em abril de 2024, algo que a acontecer será sempre um sintoma de vitalidade do clube.
Há realidades, por mais evidentes que sejam, que só quando nos tocam pessoalmente são devidamente valorizadas.
O que reveste de atualidade, a propósito de quem só agora sentiu na pele a guarda pretoriana, o poema de Martin Niemoller: «Primeiro levaram os comunistas, mas não falei, por não ser comunista. Depois, perseguiram os judeus, nada disse então, por não ser judeu, Em seguida, castigaram os sindicalistas decidi não falar, porque não sou sindicalista. Mais tarde, foi a vez dos católicos, também me calei, por ser protestante. Então, um dia, vieram buscar-me. Nessa altura, já não restava nenhuma voz, que, em meu nome, se fizesse ouvir.»"

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