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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Jogadores ‘salvam’ Schmidt


"Roger Schmidt não esperava ir para intervalo a perder (Gyokeres, 45’) e ser obrigado a alterar a mensagem que teria preparada. Rúben Amorim não contava perder o jogo porque esteve a três minutos de ficar com seis pontos de vantagem.
É o futebol, meus senhores, como dizem os treinadores quando os jogos não lhes correm de acordo com as suas pretensões. Escrevi há uma semana que o treinador leonino só tinha olhos para o título, porque sentia a sua equipa confiante, forte e a jogar bem. Ganhar na Luz era o objetivo próximo para dar asas ao sonho de segundo título no seu consulado.
Circunstâncias recentes, tradutoras de notória intranquilidade na casa do vizinho, fizeram-no acreditar no sucesso do plano, que seria cavar um fosso pontual e colocar os restantes candidatos a distância significativa.
Este dérbi surpreendeu muita gente, em que me incluo, e suscitou problemas ao leão que ninguém foi capaz de resolver. Culpa da equipa, sim, mas, primeiro, de uma abordagem deficiente de quem decide, o treinador, o qual entrou cedo de mais em fase de gestão de uma vantagem que, apesar de instável, considerou suficiente para o que verdadeiramente pretendia, que era sair da Luz com mais três pontos.
Rúben Amorim cometeu o erro de subavaliar o adversário, ao vê-lo ansioso e a jogar mais com a alma do que com a cabeça. Em teoria, apenas precisava de controlar e consumir em lume brando os minutos restantes, porque o ambiente no estádio ficava cada vez mais pesado, por motivos óbvios. Facilitou, e retirar do campo Pedro Gonçalves para fazer entrar Trincão foi-lhe fatal, por ter ferido o orgulho dos encarnados, que viram nessa troca uma espécie de desconsideração.
Coincidência ou não, Di Maria despertou, fez a diferença, a história do último quarto de hora foi completamente diferente e explica a vitória do Benfica. O treinador alemão afirmou no final que os seus jogadores mostraram grande mentalidade, mas também podia ter dito que lhe salvaram a pele, porque foram eles, os jogadores, apoiados pelo seu público, que venceram este dérbi e permitiram a Rui Costa uma noite mais tranquila e uma sensação de alívio que só ele saberá explicar.
De algum modo, o que se passou no domingo fez recordar a última época, quando o curto plantel começou a fraquejar e a família benfiquista respondeu à chamada, na Luz e em todos os campos, jamais lhe faltando com o seu apoio e assumindo contribuição decisiva na conquista do título 38. Schmidt não é bom de assoar, já o referi neste espaço, o que não quer dizer que seja má pessoa. Nada disso, se calhar é um mecanismo de proteção.
Mas uma coisa é resguardar-se das surpresas dos resultados, outra é ser um treinador teimoso, que erra, insiste no erro e reage com rudeza se lhe chamam a atenção. Por exemplo, não gostou da pergunta que um jornalista lhe colocou, absolutamente justificada, como não tinha apreciado as reações dos adeptos, cansados dos maus desempenhos do clube na Liga dos Campeões.
Foi uma deselegância que inspirou o talento de Luís Afonso no seu ‘Barba e Cabelo’ de 3 de novembro, em A BOLA. «Roger Schmidt diz que não falar português é uma vantagem porque assim os protestos dos adeptos passam-lhe ao lado…/Ele que não subestime os adeptos do Benfica…/São bem capazes de aprender alemão».
Anteontem, passou ao lado da referida questão porque, segundo ele, devia ter sido feita por alguém do Sporting ou do FC Porto. Imagine-se se lhe tivessem perguntado a razão de só se ter lembrado de Gonçalo Guedes aos 87 minutos, depois de apenas o ter chamado aos 85, no desastre de San Sebastián, com a Real Sociedad.
Não alinho nas teorias que dão conta de uma alteração comportamental de Schmidt a partir da altura em que o contrato lhe foi renovado. Se bem, se mal, o futuro dirá. O saldo continua a ser positivo no plano interno, embora a ambição de recuperar o estatuto de grande clube europeu, em mais de uma ocasião confessada por Rui Costa, tenha sofrido súbita e penosa interrupção, a trazer à memória a vergonha de 2017/2018, com seis derrotas em seis jogos e apenas um golo marcado.
Nesta altura, esse receio permanece e atormenta o universo benfiquista. Sobre o dérbi, tudo dito. Foi intenso e empolgou até ao último minuto. Vai ser recordado por muitos anos. Venceu o Benfica porque marcou dois golos e o Sporting apenas um. Ponto final.

NOTA - No mesmo dia em que se assistiu a um empolgante Chelsea-Man. City (4-4), disputado em ritmo diabólico, parece-me que, por cá, estamos a voltar ao tempo dos toques e dos contactos, desvalorizando-se os contextos. Em jogo de elevado grau de dificuldade, considero que Artur Soares Dias assinou muito bom trabalho."

Fernando Guerra, in A Bola

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