"A ausência total de Benfica deixa-nos a alma demasiado vazia. Voltar a viver o amor ao nosso clube é uma boa razão para vencer a pandemia
Neste tempo de guerra médica, física, económica e sobretudo psicológica fica ainda mais a nu a falta que nos faz o Desporto. Os jogos do nosso clube, os espectáculos que apreciamos. Até uma polémica estéril e inútil sabe bem como terapia dos nossos quotidianos. Nesta fase de verdadeiros problemas, de quotidianos alterados, de vidas viradas do avesso, resta esperar disciplinados, cumprir as recomendações das autoridades de forma disciplinada. O teletrabalho ainda dá para minorar o impacto laboral das nossas vidas, mas a ausência total de Benfica deixa-nos a alma demasiado vazia. Se há uma boa razão para vencer a pandemia voltar a viver o amor ao nosso clube é uma delas.
Nesta fase em que tudo parece pouco, há pequenos nadas que parecem muito. No meu caso, é um (in)disciplinado jogo de ténis com um amigo ao fim da tarde. Sem contacto com ninguém - o court está isolado pela natureza - de cada lado da rede ambos espancamos a bola como se ela tivesse todas as culpas do que nos vai acontecendo. São 75 minutos de pura terapia, que ajudam muito a vencer cada dia desta guerra que vivemos. Aquelas head amarelas levam pelo Covid-19 e tudo que ele nos tira. Não resolve nada, mas saio do court com a sensação de poder resolver alguma coisa.
Nesta coisa de guerra, a história já nos ensinou que a expectativa é importante. Bem sei que devia emitir a minha opinião sobre quem merece vencer o campeonato e quem vai ocupar que lugar nas provas europeias, e defender o Benfica com um rol de boas razões, mas sinceramente nesta fase interessa-me pouca ou nada. Foi sensata a decisão de adiar o Campeonato da Europa e não seria menos sensata a de anular o campeonato não havendo campeão. Ser campeão não é algo administrativo, ou louros vêm da sorte e dos méritos das batalhas. Campeão é o que joga até ao fim, as batalhas todas, dentro das normas e no respeito pelas regras. Qualquer outra forma ou fórmula interessa pouco ou nada, já só cuida do dinheiro, do negócio, já nada tem a ver com a nossa paixão pelo jogo.
Aguardamos pelas notícias dos Jogos Olímpicos, que muito me surpreenderia se não fossem adiados. Aguardamos pelas notícias dos demais campeonatos nas várias modalidades que muito me admirava que pudessem terminar.
Enquanto somamos amigos e conhecidos infectados temos de nos agarrar a tudo o que nos puder dar um futuro melhor e normalizado com a máxima brevidade.
No meio deste turbilhão informativo tivemos a notícia da morte do sócio número 1 do Sport Lisboa e Benfica. Carlos Galiano era sócio desde 1932, atleta do clube, num amor ininterrupto merecedor da nossa admiração. Deixamos aqui o nosso tributo ao exemplo e à memória. Este clube é enorme pela soma destes exemplos."
Sílvio Cervan, in A Bola
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