"Feitiço de Rafa, incompreensível mas feliz continuidade de Bruno e o talento de Félix
Haverá ou não um Rafa antes e um Rafa depois da chegada de Bruno Lage ao comando técnico do Benfica? Creio que há. O Rafa que vi chegar à Luz já tinha um potencial tremendo, que evidenciou e se destacou em Braga. Já era, porventura, o jogador mais rápido da Liga e, sobretudo, e muito especialmente, e jogador mais rápido com a bola. Correr sem bola, como facilmente se percebe, é muito mais fácil do que correr com bola. Correr sem bola, como facilmente se percebe, é muito mais fácil do que correr com bola. E uma das enormes vantagens do Rafa sempre foi a de conseguir ser tão rápido com bola. Mais do que qualquer outro.
Mas o Rafa que vi chegar à Luz também era um jogador ainda algo imaturo do ponto de vista do jogo colectivo. Parecia querer fazer tudo tão depressa que facilmente se atrapalhava a ele e à equipa. E falhava demasiadas vezes na hora de decidir ou finalizar. Dava a ideia de ser um jogador demasiado irracional na hora de definir os lances.
Talvez por isso, Rafa andou muito tempo (demasiado tempo!) à procura do seu lugar, porque ora o tinha, ora o perdia. E ora marcava um golo, ora falhava dez! Era um enigma - como podia um jogador de tão grande potencial, e com características tão especiais e raras, ser ao mesmo tempo tão explosivo e tão ineficaz?
O que passou a ver-se, desde que Lage chegou ao comando da equipa, foi um Rafa bem diferente. O jogador manteve intactas todas as suas mais fortes capacidades e acrescentou-lhes o que lhe faltava para deixar de ser tão improductivo e se tornar num dos mais decisivos jogadores da equipa.
Ainda por cima, Rafa consolidou dentro do campo o que parece ser, fora dele, uma relação muito próxima com Pizzi, o que prova que se dois jogadores talentosos se dão muito bem fora dor elevado maior e mais forte possibilidade têm de transformar essa relação em algo mágico dentro do campo.
Com as devidas diferenças e o maior respeito pelo impacto e importância de cada um, não posso deixar de recordar os tempos em que Rui Costa e João Vieira Pinto pareciam jogar de olhos fechados com a camisola do Benfica ou da Selecção Nacional, numa fase da vida em que era conhecida e grande amizade entre os dois.
Este Rafa continua a ser rapidíssimo com e sem bola, e faz a grande diferença, sublinho, por ser tão rápido com bola, mas já racionaliza muito mais o jogo, temporiza-o, parece saber muito melhor quando fazer a pausa, quando esperar pelo companheiro, e parece bem mais frio no momento de decidir se assiste ou se remata.
Um Rafa assim pode tornar-se realmente num caso muito sério!
(...)
Parece que está meio mundo surpreendido porque afinal o rapaz que custou ao Atlético de Madrid uma pipa de massa tem afinal um talento extraordinário. Pois tem. Mas já tinha. Não se trata de saber se deu ou não provas de valer no mercado do futebol os mais de 120 milhões de euros que o clube espanhol pagou por ele. Trata-se de saber se João Félix é ou não é um talento excepcional. E é!
Estava na cara por tudo o que fez no Benfica que Félix é, realmente, um jogador diferente dos outros, porque quem, aos 19 anos, faz o que ele fez com a camisola do Benfica e com a simplicidade com que o fez só pode ser na verdade um jogador invulgar, com inata aptidão para vir a ser um grandíssimo jogador de futebol.
Para alguns, pelos vistos, foi preciso verem o que ele jogou, e como marcou, ao Real Madrid, ou os dois golos extraordinários que apontou à Juventus, na fantástica competição que foi, sobretudo este ano, a International Champions Cup com que a organização do norte-americano Charlie Stillitano brinda no verão os amantes do futebol.
Mas não era preciso nada disso do que se viu frente ao Real e Juventus para se perceber que João Félix está muito longe de ser mais um dos bons garotos-promessa que têm saído nos últimos anos da academia do Benfica, no Seixal.
João Félix já tinha mostrado ser no Benfica muito mais do que isso.
Ah, mas só jogou seis meses a titular? E então?
Seis meses não chegam para ganhar praticamente nada - enfim, foram suficientes para o Benfica, com João Félix, fazer magnífica e invulgar segunda volta de campeonato e chegar ao título.
Mas seis meses são mais do que suficientes para se perceber o que vale o talento de um jogador.
Ninguém sabe, nem pode saber, que carreira vai João Félix fazer nos próximos 10 ou 15 anos. Mas o futebol não se julga ou analisa pelo que um jogador vai fazer no futuro. Vê-se pelo que tem vindo a fazer ou faz no presente e, quanto muito, pelo potencial que mostra para uma carreira de sucesso.
Pelo talento que já se viu que João Félix tem, como é possível que alguns possam ter posto em causa o talento dele só porque o Benfica exigia que pagassem 120 milhões para o levar?
Se foi caro ou barato só o Atlético de Madrid pode conclui-lo, a partir de agora. Mas que contratou um fantástico jovem jogador disso não me parece que possa haver a mais pequena dúvida.
O que terão visto em João Félix os responsáveis do Atlético de Madrid - e, já agora, os de muitos outros clubes que o queriam mas talvez não estivessem disponíveis para pagar 120 milhões por ele?
Viram certamente o que muitos de nós vimos em Portugal nos seis meses - ou quase - que João Félix esteve como titular do Benfica.
Que jogava perante 50 ou 60 mil espectadores com a mesma simplicidade e tranquilidade como se estivesse a jogar no Seixal, diante de meia dúzia de adeptos, a divertir-se com os companheiros mais ou menos da mesma idade.
Que mostrava ter uma inteligência fora do normal para a idade, visível no modo como se movimenta em campo, se posiciona, domina a bola e a joga. E visível ainda no modo como dá quase sempre a ideia de pensar mais rápido do que a maioria, e de saber o que vai fazer com a bola antes de a receber, e, sobretudo, como nunca está lá mas como aparece lá... ou seja, na forma como surge no espaço quando o adversário menos espera, especialmente no momento de chegar ao golo - vejam-se os casos do golo feito ao Real Madrid na pré-época (quando Marcelo, na pequena área, quis cortar a bola já a bola não estava lá...) e do primeiro dos dois golos feitos à Juventus, com o felino João Félix a surgir, no coração da área, a rematar de primeira sem deixar a bola tocar na relva, surpreendendo um defesa italiano pela impressionante rapidez do movimento.
E eis-nos num dos pontos mais impressionantes do perfil de Félix - o ter tanto golo, como se diz na gíria do futebol. Em meia dúzia de meses como titular fez 20 golos pelo Benfica! Com 19 anos! Tem tanto golo e pareceu ter tanta facilidade de os marcar, dos mais fáceis aos mais difíceis, de cabeça (que jogo aéreo tem!!!), ou de pé direito (o mais forte) ou pé esquerdo (nada cego!!!, como também se conclui, mais uma vez com recurso à gíria do futebol).
Realmente, como escreveram os espanhóis, quem faz aos 19 anos o que o jovem João Félix fez com a camisola do Atlético de Madrid, que é só o maior dos rivais do Atlético, mesmo tendo em conta que era um jogo de pré-temporada, tem forte probabilidade de vir a ser, quando tiver 24 ou 25 anos, realmente um dos melhores jogadores do mundo, porventura candidato a conquistar mais numa Bola de Oura para o futebol português. É o meu palpite!
PS - Primeiro clássico da Liga já amanhã, com o Benfica fortemente moralizado e o FC Porto ainda inevitavelmente marcado pelo tremendo insucesso na Champions - e inevitavelmente atingido pelos 4-0 do Olympiakos ao Krasnodar! Veremos se o Benfica confirma alguma vantagem sobre o dragão ferido. Porque ferido, o dragão costuma ser poderoso!"
João Bonzinho, in A Bola
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