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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ferro: Um central de aço com um toque de porcelana

"Olhando de relance para o sucesso e para o bom futebol praticado pelo Benfica, desde a chegada de Bruno Lage, há certos executantes que se destacam e magnetizam assim para si toda a atenção do público geral. Rafa e toda a sua velocidade, Pizzi e o seu toque de bola e qualidade de passe, Gabriel e os seus passes típicos de quarterback, Florentino e a sua capacidade de posicionamento defensivo. Tudo isto capta a atenção dos adeptos encarnados e provoca aplausos em catadupa no Estádio da Luz. No entanto, para mim, há um jogador cuja importância para a equipa, tanto ofensivamente como defensivamente, é claramente menosprezada, este jogador é Ferro.
Até dentro do próprio sector defensivo, Ferro acaba por ser algo desvalorizado face às exibições do seu companheiro no sector central da defesa, Rúben Dias. Em termos defensivos, Ferro é uma grande mais valia para o Benfica. Fazendo uso da sua boa estatura física (1.89 metros de altura), na época transacta, Ferro ganhou 58,6%* dos duelos aéreos (*dados OptaSports trabalhados pelo Sofa Score), face aos 57% de Rúben Dias, jogador bem mais conhecido pela sua capacidade no jogo aéreo. Já na questão dos duelos no solo, Ferro é também bastante eficaz ganhando 60% dos mesmos, mais 9% do que Rúben Dias que ficou pelos 51%. Já em termos disciplinares, Ferro cometeu apenas 0,5 faltas por jogo, o seu compatriota Rúben Dias chegou às 1,6 faltas. Estes dados estatísticos, por muito relativos que possam ser, demonstram a capacidade que Ferro tem no posicionamento defensivo, na leitura do jogo e a sua eficácia no momento do desarme, eficácia essa que subiu para lá dos 75%.
Apesar de ser bastante competente defensivamente, é no momento ofensivo que o jovem central de 22 anos, se diferencia de grande parte dos centrais na Europa. A equipa de Bruno Lage aposta quase sempre na construção de jogo a partir de trás e com a recente mudança na regra do pontapé de baliza, que veio permitir a entrada dos defesas na área, a importância de ter centrais capazes de pensar e iniciar o jogo é cada vez mais fundamental. A percepção do jogo e a inteligência táctica da qual Ferro dispõe, são características algo atípicas para um jogador de tão tenra idade. Ferro é capaz de ser decisivo no momento ofensivo em duas situações de construção diferentes:
No caso da equipa encarnada enfrentar equipas com as linhas mais juntas e que não aposte na pressão alta, Ferro transporta o esférico, “invadindo” os espaços que se abrem pela inexistência de pressão, aproximando-se o mais possível do meio campo ofensivo e aí realiza passes verticais com a intenção de “quebrar linhas”, ou seja, que permitam que algum jogador do Benfica receba a bola mais perto da baliza adversária e que ao mesmo tempo esteja mais longe das primeiras linhas de pressão do adversário. Quando a equipa das águias enfrenta situações destas, quase sempre os laterais estão projetados dando “largura” à equipa e os extremos procuram espaço interior. Isto deixa a equipa algo vulnerável a um contra-ataque rápido do adversário, caso aconteça a perda da bola, tendo apenas os centrais recuados e possivelmente os médios na cobertura. Face a esta situação é absolutamente preponderante a acção e a qualidade de passe dos centrais. Ferro prospera nesta conjuntura tendo uns impressionantes 80% de passes completados para o meio campo ofensivo, números de elite a nível europeu. Os passes de Ferro não se limitam a ser direccionados para a zona correta ou para o jogador desmarcado, a bola sai quase sempre dos pés do internacional sub21 “com contrapeso e medida”, de forma a facilitar a recepção orientada dos seus colegas, de forma a permitir a continuidade da jogada. 
Numa situação em que o Benfica sofra uma maior pressão na primeira fase de construção do jogo, em que o transporte de bola é dificultado, o camisola 97 das águias, opta quase sempre por passar o esférico aos laterais que, perante a pressão adversária, ajudam na construção, ou para um médio que baixe no terreno com a intenção de ligar o jogo. Neste capítulo, Ferro é igualmente eficaz, tendo uma taxa de acerto de 92% de passes dentro do seu próprio meio campo. Sobretudo nos jogos europeus, onde o Benfica terá que jogar necessariamente muitos minutos à procura de transições rápidas, a capacidade do passe longo torna-se um recurso fundamental na procura da baliza adversária. Esta será provavelmente uma das “melhores armas do arsenal” de Ferro. O jogador formado no Seixal, completa 63% dos passes longos, números incríveis em comparação com 90% dos centrais no mundo do futebol. Para que se tenha melhor noção, a eficácia de Ferro nas bolas longas é superior à de defesas centrais como Koulibally, Hummels ou Bonnuci, todos centrais de classe mundial e bastante elogiados pela sua qualidade de passe.
Ferro ainda comete alguns erros defensivos e por vezes toma decisões erradas, mas estes erros apenas poderão ser reduzidos com a experiência dentro de campo. O que é certo é que o central do Benfica demonstra já muita qualidade, tanto defensivamente como ofensivamente, e tem ainda muita margem de progressão. Na minha opinião, o que mais diferencia Ferro dos restantes é a enorme maturidade táctica e emocional da qual o jovem já dispõe. A manter o trajecto de progressão que já tem sido seu apanágio, não ficará muito mais anos em terras lusas."

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