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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Liga dos Campeões e outras mudanças: siga o dinheiro

"Não se esqueçam de uma frase de Chateaubriand: «A justiça é o pão do povo, de que ele está sempre necessitando»

1. A Taça da Liga, e a sua fase de grupos, tem lugar, esta época, a um fim de semana prolongado. Com novo patrocinador parecia seguro que nos jogos que envolvessem os grandes - importantes dinamizadores de um qualquer patrocínio, tenha este sido concretizado de forma directa ou indirecta... - o Conselho de Arbitragem nomeasse árbitros que não gerassem muita polémica. Sabemos bem que se os treinadores dão minutos aos jogadores menos utilizados também pode ser curial que o CA designe árbitros com menos experiência para os tradicionais grandes palcos do futebol português. Mas face às arbitragens do Dragão e da Luz parece, afinal, que o CA e a Direcção da Liga - em tempo de propostas de mudança estatutária revolucionária! - estão quase de costas voltadas. Ou então as relações tensas do arranque desta época não estão ainda ultrapassadas. Quase nos recordaram Sócrates, o bem antigo, quando nos legou que «de três coisas precisam os homens: prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara». Citei e recordei uma das antigas referências europeias. Tão só! Sabendo que a justiça não tem nada de complicada a quem a complica somos nós. Nos relvados e fora deles. Nos tribunais e, por vezes, à porta deles. Seja os tribunais do Estado seja os tribunas arbitrais. Como o do Desporto, tão acarinhado esta semana em razão de acórdãos que expressam uma jurisprudência constante que começa a ser, e bem, em tempos de liberdade de expressão, e dos seus excessos. Mas no Dragão e na Luz as arbitragens foram fracas, diria que fraquinhas. O Futebol Clube do Porto empatou e Sérgio Conceição foi, uma vez mais expulso. Na Luz um Benfica, com algumas novidades e com Salvio em grande, venceu justamente um Rio Ave bem organizado e com pormenores individuais bem interessantes. Hoje é o Sporting, já sob a liderança de Frederico Varandas, a defrontar o Marítimo. Veremos qual o árbitro designado pelo Conselho de Arbitragem...

2. Esta semana fomos confrontados com um exclusivo que, de verdade, tem mais de dois anos. A descoberta do hacker, incluindo a sua fotografia, qual artífice do Football Leaks, consta de uma edição do jornal desportivo espanhol Marca em Março de 2016. E este jornal, na sua liberdade e também com a sua clara resistência - que vivamente se saúda! - deu, nesse tempo, a devida nota dessa notícia! Na altura Rui Pinto tinha 27 anos e o seu advogado Aníbal Pinto, que «com ele comunicava mediante TOR, para não ser descoberto» actuavam em conjunto e haviam «extorsioando y chantangeado a diversoso clubes y, cuando estos no pagaban, ellos hacian públicos los documentos en na web Football Leaks». Como constatam citei, em castelhano, a notícia do jornal espanhol. De propósito e em consciência. E não foi, acreditem, por negligência... Acredito que as nossas entidades de investigação não deixaram de ler, e guardar, a notícia, e porventura até os comentários publicados no site do mais conhecido, e vendido, jornal desportivo espanhol. Acredito, já que não conheço o processo - nem, ao que consta, os seus diferentes anexos - que as mesmas entidades de investigação, e quem as dirige, não deixaram de realizar todas as diligências para aprofundar os dados e factos que constam da notícia. E acredito, diria que piamente, que esse aprofundamento consta de inquéritos pendentes, estes sim, por cautela táctica, ainda em pleno segredo de justiça. Aprendi, da minha presença também nos corredores e nas diferentes barras dos nossos tribunais, e numa influência brasileira, que « segredo não está no que você diz, mas na maneira como diz. Sempre que precisar disparar a flecha da verdade, não esqueça de antes molhar a sua ponta num vaso de mel». E, aqui, o mel é o seguir o dinheiro. E acredito, com renovada piedade, que as nossas entidades de investigação estão já a seguir o dinheiro. Com a percepção de encontrarem, a tempo - mesmo que com mais algum tempo - os verdadeiros beneficiários finais. E, decerto, ouvindo já amanhã ou durante a próxima semana, algumas personagens que se estão disponíveis para serem entrevistados estão ansiosos para serem escutados! já que como escrevia Miguel Couto: «A justiça é o que nos favorece; a injustiça é o que nos contraria»! Como bem sabe e bem fez em oportuna e sagaz conferência de imprensa e meu Amigo João Varandas Fernandes.

3. Vai arrancar, esta semana, a Liga dos Campeões. E também a Liga Europa. Muito muda na Liga dos milhões. O prémio de presença na fase de grupos desde logo. Bem apetitoso! Os prémios por vitória ou empate. Bem estimulantes! Os prémios para quem alcançar os oitavos de final, quartos de final e ... final! Bem relevantes! E neste tempo em que na Europa se estuda, com afinco, uma terceira competição europeia muito mudou, entre nós, em termos de direitos televisivos. O que sabemos é que nenhum grande ou relevante operador que actuam no mercado português adquiriu os direitos da Liga dos Campeões. Ou da Liga espanhola. Ou da Liga francesa. Sabemos, tão só, por uma voz da Sport TV que mesmo oferendo menos, não «descem os preços das assinaturas»! Sabemos, desde Victor Hugo «que ser bom é fácil. O difícil é ser justo»! E, aqui, mesmo perante a indiferença - eu diria desconhecimento! - do Ministério da Cultura - o da tutela! - os direitos dos consumidores são afectados. Acredito que o poder político do desporto - activo e cauteloso como é imperioso nestes complexos momentos! - se vai empenhar na avaliação desta situação. Este capitalismo irritante - agora que o nosso Primeiro Ministro visita, e bem, Angola após uma cómoda decisão da nossa Justiça! - tem dias. Diria também que tem rostos. As licenças resultam de uma concessão pública e é útil que algumas personalidades se recordem dessa realidade e outras o saibam, por conhecimento transmitido. E a concessão, qualquer concessão, gera responsabilidades e, no caso, explicações. Diria que aqui também a transparência se exige! E também é tempo de alguns que se julgam senhores disto tudo - e não digo donos em plena consciência bancária! - não se esqueçam de uma frase de Chateaubriand: «A justiça é o pão do povo, de que ele está sempre necessitando»! Pão e povo! Sempre! Não se esqueçam... enquanto é tempo! E como nos legou Machado de Assis «enquanto matamos o tempo, ele nos enterra»!"

Fernando Seara, in A Bola

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