"Presidente assim nenhum clube teve (e não só pelo que fez no desporto); Sem sua ideia não teria havido Benfica
1. (O pai era da Galiza, emigrara par o Porto para por lá abrir salão de bilhar - e, algures por 1879, tinha o filho cinco anos, desceu, com a família atrás, a Lisboa, para igual negócio). Ele cresceu e estudou na Escola Americana - e fundado o Sport Lisboa (1904) desatou a aparecer em Belém, para jogar na sua equipa de terceiras categorias. «Jogava a extremo direito, era o jogador mais veloz desse tempo, mas campeão, no Sport Lisboa, só fui uma vez - e como guarda-redes...»
2. Numa das primeiras edições de A Bola contou-o: «Ajudei a conquistar o primeiro troféu ganho pelo Sport Lisboa contra Cruz Negra, a vitoria foi nossa por 5-2 e marquei dois golos e maio porque o primeiro resultou dum chuto simultâneo vibrado por mim e pelo interior direito e que deu um efeito tão incrível à bola que o guarda-redes, verdadeiramente desnorteado, não pôde apanhá-la, tendo-a tão perto».
3. Fora o primeiro elemento do Sport Lisboa a participar num torneio de atletismo (organizado, na Pavalhã, pelo infante D. Afonso) - e, em 1908, o clube perdeu quase todos os seus melhores futebolistas para o Sporting. Pensou-se que era o seu fim (e, se fosse o Sport Lisboa e Benfica nunca teria existido...) - mas ele, Manuel Gourade, Cosme Damião não deixaram que fosse: da sua cabeça soltou-se a ideia de um peditório para suportar os gastos de inscrição (da equipa de terceiras categorias que passava a primeira) no Campeonato de Lisboa. 47 mil réis se colheram, bastaram para a necessidade - e com ele à baliza, em alguns jogos, o SL só ficou atrás dos ingleses do Carcavelos.
4. Também o contou em A Bola: «Outro dos meus melhores títulos foi quando o José Pontes organizou festa desportiva memorável. O Benfica pensou em muitas equipas para o cross-country, mas o Cosme Damião apenas pôde organizar duas e meia. Eu estava pacatamente nas bancadas, com o meu filho, a assistir aos preparativos quando o Cosme, para organizar a terceira equipa, me ordenou vestir-me para correr. Por meu turno eu mandei vestir o meu filho e lá fomos os dois completar a equipa - e ganhou o Lázaro...»
5. (Essa vitória de Francisco Lázaro com a camisola do SL Benfica foi em Maio de 1911 - num corta-mato com sebes, muros, rias de água, arames farpados e passagens por... minas!) Quinze dias antes, estreara a primeira peça de teatro de revista de feição claramente republicana: Agulha em Palheiro - foi ele que a escreveu, era já argumentista de fama (internacional).
6. Ao futebol e ao atletismo que praticou, juntou-lhes o ciclismo, o hipismo, a natação, o alpinismo (& mais...) - e, no tiro, foi aos Jogos Olímpicos de 1920 e 1924: em Paris ganhou a medalha de quarto lugar (ainda não se decidira que o pódio era de três apenas). E oito anos antes já ele se tornara presidente do Benfica.
7. Algures por 1942, a Censura salazarista proibiu hino do Benfica por no seu refrão se cantar Avante p'lo Benfica! (e Avante se chamar o jornal dos comunistas). Fora escrito por ele para comemorações do 25.º aniversário do clube - e a presidente do Benfica voltou em Janeiro de 1945. (Ganhou o campeonato - e lançou o projecto para o «grandioso estádio de futebol» que esteve para ser em terrenos à beira do Hospital Júlio de Matos e acabou por ser em Carnide, já com Manuel da Conceição Afonso no seu lugar...)
8. Figura de destaque na candidatura de Norton de Matos, a PIDE esteve para prendê-lo, não o fez por se achar perigoso o seu impacto - dada a sua posição na Federação Internacional das Sociedades de Homens de Letras (seu vice-presidente durante duas décadas, em 1956 subiu à presidência).
9. Entre mais de 100 peças de teatro que assinou está O Leão da Estrela - transformado em filme por Arthur Duarte. Aos 67 anos chegou à final de pares do Campeonato de Portugal de ténis de segundas categorias - e aos 50 fora campeão absoluto de esgrima.
10. Foi filósofo e esoterista - experts afiançam que é dele a melhor tradução do Se, o imortal poema de Kipling. Aos 82 anos ainda jogou ténis de mesa por Moçambique - revelando a quem o viu e esboçou: «E, em Portugal, uma vez por semana pelo menos, ainda vou a pé de Lisboa a Queluz ou de Queluz a Lisboa - e se não dou a volta ao mundo não é por falta de pernas, é por falta de botas...»"
António Simões, in A Bola
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