"Moscovo – José Sesinando (ou Palla e Carmo) era um daqueles artistas, e dos bons, que precisava de volta e meia fazer um biscate por causa de os meses terem fim. Por isso trabalhou num banco, emprego esse ao qual chegava sistematicamente atrasado. Vendo bem, nada de grave, porque ele garantia: “Sei que costumo chegar tarde, mas depois, para compensar, saio sempre mais cedo.”
Pelo meu lado, se não se importam, hoje também saio mais cedo. O jogo é a horas boas para o fecho, o material fica escrito e devidamente entregue, carrego com as tralhas e vou, por minha vez, despedir-me de Moscovo outra vez que ontem à noite não chegou e, com sinceridade, esta também não chegará.
Talvez coma uma sopa com beterrabas, pepinos e batatas, a puxar para o borsch, releia aquele conto maravilhoso de Daniil Harms no qual o sol está sempre a brilhar sobre as senhoras rechonchudas que cheiram maravilhosamente e fique pelo arredores do meu hotel, na Prokovka, onde toda a gente se deita tarde, e escute o seu conselho: “Não vás longe demais, senão verás coisas que não serás capaz de esquecer.”
Sim, não é um bom dia para esgaçar a memória. Não irei longe demais. É noite em que nem a mim mesmo era capaz de fazer mal. Serei ligeiramente russo. E direi: “Olhem, mais três vodcas como esta e fico sóbrio!”
Depois choveu como nunca até aqui. Em seguida, nevoeiro. A Rússia passou a ser tropical. Há cada coisa..."
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